sábado, 25 de novembro de 2023

"Cartas 💔" 25 - Afinando silêncios.

Amanheci abraçada com ela no edredom, no lençol suado por nós um bom período madrugada adentro, afora, não sei, só sei que foi assim. Grudadas como um bom casal. Exercendo uma liberdade gigantesca.
Olhei pra ela e foi verdadeiramente estranho tê-la ali. Não consigo tratá-la pelo nome, ter alguma formalidade, tato. Mas eu o faço porque ela também o faz, então eu sigo a maré. Às vezes soa como se eu tivesse convidado uma estranha do aplicativo de relacionamentos pra trepar comigo, como se eu estivesse comendo buceta só pra divertir... mas era ela. A mulher que me arrasou nos últimos dias, cuja falta me faz sofrer mesmo.
Pela manhã meus olhares encontraram os dela fechados, ainda. Um sábado calmo, frio, chuvoso. Me vi na oportunidade de servir café, maconha e buceta novamente. Nos embolados por mais uma horinha ou talvez até duas, ela tomou o café. Um banho, vestiu de volta seu belíssimo vestido vermelho, mas já sem a calcinha...
Em nenhum momento citou nada sobre nós, eu também não perguntei nada, mas nem por isso não tivemos assunto. A noite foi incrível com ela ali, pensei automaticamente em convidá-la novamente. Pra um vinho, talvez. No chão da sala, como sempre fizemos, com boas conversas e muita intimidade, com sorte um pouco de sacanagem.
Mas não deu tempo. Ela perguntou da caneca, menti, disse que quebrei sem querer e ela riu aquela risada dela que me desafia à contar a verdade. Em seguida, me fez a pergunta mais improvável. Me perguntou se eu comi a amiga dela. Direto assim. Eu não pude mentir, eu não sou de contar as coisas que faço na minha vida pessoal pra ninguém, mas penso que se ela me perguntou é porque ela já sabia a resposta verdadeira, então eu disse que sim, que ela veio aqui e transamos sim. Eu pude ver o olhar de desaprovação queimando vivo no rosto dela, aquele fogo de ciúmes com raiva que ela tem dentro da bola do olho dela. Tudo mudou, mas nada me parece diferente. É foda eu ainda me deixar ser afetada pelas mesmas porcarias de sempre.
Em menos de cinco minutos ela apagou o baseado e disse que tinha que ir. Igualzinho no primeiro dia. Inventou qualquer desculpa pra sair da mira do meu olhar.
Por que ela acha que eu deveria não fazer nada mais depois que ela foi embora?
Eu não perguntei sobre as coisas que ela fez nesses dias todos. Não que eu não pense. Não que eu também não tenha uma pontada de ciúmes, saca?
Me vi sozinha na cozinha mais uma vez. Dessa vez doeu menos e me gerou mais um sentimento de raiva... Mas eu não quero dar mais atenção pra esses sentimentos.
Mais uma vez eu tô caindo pelo vão entre os dedos dela.
Mais um baseado apagado.
Dia ímpar.
Ex casal.
Ciúmes.
Chove lá fora.
Bingo.
Curiosamente, assim que ela saiu a amiga dela me mandou mensagem.
Foda-se o Jazz. Hoje ele não vai tocar, eu não vou deixar...
Hoje eu vou comer a amiga dela de novo, só de raiva. Transei com ela hoje e ainda hoje eu vou transar com a amiga dela.
Porque, além do mais, eu sempre passo por mau caráter mesmo, né?
Impressionante.


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