Instalei um aplicativo de relacionamento hoje. Queria uma distração rápida e descompromissada, e foi legal pra mim. Fez bem pro ego. Fez bem pra autoestima.
Mas no fundo continuo achando tudo a mesma balela, a mesma coisarada de sempre, elogia minhas tatuagens, recebe algum elogio genérico de volta, fala de coisas sem graça, com todas eu tento ser engraçada porque eu sou Zé Risadinha mesmo, poucas conversas engatam de verdade. Pouco interessa de verdade quando há pouco interesse real de ambas as partes.
Essa coisa de flerte virtual é sempre a mesma coisa tóxica e insegura de sempre. A gente só mostra o lado bom e nunca fala que só tá ali porque quer sexo fácil ou acabou de sair de uma relação e faz absolutamente qualquer coisa pra superar. É um monte de gente mascarando suas cicatrizes emocionais e seguindo o fluxo. Todo mundo quer mostrar como sua vida é ótima e feliz, na rede social. Meio robótico, até. Um grande valão de necessidade de aprovação e carência emocional preenchido com matchs. Uma pressa sem sentido de tentar encontrar um novo sentido na vida, em tentar esquecer aquilo que aflige. Eu não quero ver as melhores fotos do meu match em viagem, são legais também, mas eu quero vê-la comigo tomando açaà na calçada ou um copão, chapada, rindo das piadas da Alexa, fodam-se os vinhos caros, eu quero vê-la fazendo xixi bêbada, na rua, escondida entre os carros. Eu quero sintonia e não tem aplicativo pra isso porque isso é algo que a gente, sendo o mais humano e genuÃno possÃvel, cria. Eu me interesso em saber qual a primeira memória maneira que ela tem da infância, se já quebrou algum osso e qual a história mais engraçada da sua adolescência, eu quero filosofar sobre qualquer coisa mesmo que muito louca, quero saber se tem encaixe quando a gente se beija na boca. Quero essência. E também quero saber se prefere japonês ou churrasco. Sei lá. Eu me interesso por gente de verdade, que eu posso encostar, saber que existe, tocar a pele. Não a tela. Eu não sei viver ali, dentro. Nem assistir a vida por ela. Eu não sei viver amores de plástico.
E além do mais, eu acho que ninguém ali tem intenção real de se encontrar, eu mesma, pelo menos, só quero atenção, distração. Quero imaginar outras possibilidades - mesmo que numa realidade distante - que não fossem com ela ou envolvendo ela. Uma volta com ela e blá blá blá.
Mas, sendo bem hipócrita, hoje foram longas horas espaçadas durante o dia da mais pura superficialidade, corações, likes, super likes e muitos "oi, como vai?". Surtiu efeito, atenção recebida, um afago que dá, fez eu me sentir até um pouco menos sozinha.
Mas a insegurança nunca espera em dar as caras, né?
Passei o dia respondendo mensagens, com os olhares atentos nas notificações, na tela do celular.
Mas.
Assim que olhei pra frente, bati os olhos na marquinha que fez na parede quando eu quebrei a caneca verde. A realidade chegou tal qual um soco na cara. Pensei em colocar um quadro qualquer por cima pra esconder, assim a marca seria um segredo que eu vou esquecer, hora ou outra.
Assim como vou esquecê-la, eu sei, também uma hora ou outra e eu espero que não demore, que não me tome muito mais da capacidade de lidar com isso. Eu sei que não estou lidando com isso da forma mais inteligente emocionalmente, mas estou lidando com algo que não me preparei para a possibilidade de lidar, então faço o melhor que posso comigo, mesmo que de uma forma impulsiva. E não existe nada que seja mais emocional do que quando a gente decide que precisa ser somente racional, porque no fundo não importa o quanto a gente tente, o quanto a gente queira mudar águas passadas, não importa o que a gente faça, depois que tudo acaba ainda assim o que fica é só a vida, que obrigatoriamente segue adiante... dançando.
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