quinta-feira, 2 de novembro de 2023

"Cartas 💔" 02 - Anéis de Saturno.

Madruguei pensando nas possibilidades, na culpa, até, por tudo que levou até chegarmos aqui... E pela evidente falta de trabalho em dupla que tivemos neste relacionamento.
Bateu bad.
Fiquei me torturando e pensando se ela já instalou o Tinder, se voltou pra vida do ex otário que vive perseguindo ela nas redes sociais há anos, no que ela estaria fazendo. Onde estaria. Se assistiu sem mim mais um episódio da sua série favorita.
Se falou mal de mim na terapia ontem, mas que se foda. Será que ela já separou as coisas do dia seguinte, será que ligou o despertador ou esqueceu e honestamente... Foi desesperador a cama vazia,
fria...
Bad. Bad. Bad.  Um mal estar geral, juro.
Enfim. Bagunçou minha rotina ela fugindo do alcance da minha retina.
Pela manhã enquanto escovava meus dentes, a face da tristeza me encarava no espelho. Eu encarei de volta. Fixamente. Eu me sinto mal, caralho. E daqui acredito que não vou me sentir bem nunca mais... Parece que a dor é física, mas eu sei que não é. Um furo feito por uma Beretta bem no meio do meu coração ou quase isso que sinto. Honestamente preferia um furo de Beretta.
O ausência dessa mulher pela casa é quase possível de sentir mesmo, de tocar, quase palpável e me condenou ao silêncio matinal. Um certo vazio existencial.
Saudades de conversar horrores mesmo que eu nem sequer tenha feito download da minha alma pro corpo ainda, mas ela já estava lá... Falando umas trezentas ou mais palavras por minuto, tal qual uma metralhadora de palavras, sempre animada e puxando assunto. Preenchendo cada canto da casa com sua risada alta, sua voz. Pensei que ela poderia me surpreender e simplesmente estar na cozinha, mas não estava. Ela não conseguiria entrar tão silenciosa nesta casa, de forma alguma.
Tem um pouco dela em cada canto mesmo com a ausência, tem os vícios dela no quarto, tem o cheiro dela na sala, na cama, nas minhas blusas.
Na pequena mesa da cozinha notei que ela me deixou a aliança e a solitária. Qual é, caralho??? Por ela eu roubei os anéis de Saturno e coloquei cada um deles nos dedos dela, pude sentir cada um deles em meus dedos também, de noite e de dia. Os anéis foram um presente, à ela pertencem e eu não quero sequer colocar as mãos neles. Ela poderia ter levado, ter jogado fora, ter vendido, ter jogado no vaso sanitário e ter dado descarga... Mas foi foda pra mim encontrar os anéis sobre a mesa pela manhã, eu não notei que estavam ali, ontem.
Eu não sei lidar.
Acendi um baseado e fumei à tragos apáticos. Lembrei da gente fumando vários e vários nessa mesma cozinha, enquanto ela falava e sorria... Memórias invasivas que insistem em permanecerem afetivas. O que eu tenho agora? Nada além de um beck, da saudade, dos anéis deixados na mesa e de uma caneca suja esperando  por mim, na pia.
Eu sei que já falei isso e vou repetir... O amor pode ser uma bossa. Ou uma bosta.




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