quarta-feira, 1 de novembro de 2023

"Cartas 💔" 01 - Tic Tac Tic Tac Sorry Baby, I'm Sad!

Hoje ela tomou coragem e partiu.
Não consigo dar dimensões pro tamanho do buraco que ficou aqui, e também não sei falar de outro jeito senão assim... Frio.
Não tinha mais nada que pudesse fazer para que ela mudasse de ideia, assim, magicamente, eu sei. Tentamos. Conversamos. O amor virou montanha russa com dias lá embaixo cada vez mais longos, cada vez mais baixos, disso eu também sei. E eu TAMBÉM sabia que só o amor não sustentaria o hype do nosso carrinho lá no alto, no looping, na adrenalina, na velocidade, acho que a felicidade é um exercício diário... É foda. Considero válidas cada uma das tentativas, à sua maneira... Mas amor não é tudo, é balela namastê, tilelê.
Eu sabia que aconteceria, mas não imaginei que seria hoje, que seria agora, que seria... hoje foi como se todo meu medo tomasse forma e eu assisti tudo ali, de frente. Que saco! 
Doeu assistir enquanto ela retirava do guarda roupas cada uma das peças de roupa, cada item, cada bibelô bobo com aspecto de souvenir vagabundo que ela tirou da sala... Tudo doeu. O espaço foi ficando cada vez maior, mais vazio, sem sentido, mais pálido, mais sem vida, sem cor, sem nós, sem ela, sem nada. Percebi que ela é quem dava vida, cores e felicidade pra essa casa.
É foda. Hoje doeu. Tá doendo ainda. E eu sei que ela não vai voltar. Eu sei que ela não quer voltar.
Ela levou tudo... Menos eu. Penso que ela poderia me ligar agora e me dizer que esqueceu. Que volta pra me buscar. Que volta. Sei lá. Ela levou tudo, menos as memórias. Me deixou sozinha com a nossa história. O que eu perdi nesse tempo? O fim de tudo é sempre muito triste, muito tenso. Eu não queria mesmo viver isso de novo. A sensação de insuficiência é um nó na garganta como se alguém apertasse meu pescoço.
Ela esqueceu a xícara favorita dela na pia da cozinha porque quando ela terminou de acomodar os pertences dela em caixas frágeis de papelão eu a convidei pra um café. Eram três e vinte e seis de uma tarde de sol e calor ameno, e eu torci pro tempo breve do café durar o mesmo tempo que dura um mês, um ano, uma década... Sei lá. Eu só queria conseguir ter mais um pouco dela perto, quem sabe assim ela mudaria de ideia? Lá estávamos nós, agora como ex casal, Na mesma mesa de sempre. Reclamando do amargor do meu café, como sempre. Conversamos brevemente, pacificamente sobre tudo menos sobre a gente, falando sobre o sabor do café, sobre tédio, sobre a guerra sinistra que tá rolando no oriente médio, concordamos e discordamos... ainda, mesmo que de uma forma estranhamente fria e um tanto quanto distantes. Os vícios em tratar ela por apelidos carinhosos ainda é constante. Não ter um olhar de amor vindo dela é muito, muito frustrante.
Depois ela colocou a xícara na pia, disse que tinha que correr porque faltavam três horas e meia pra terapia. E ela tinha coisa pra caramba pra fazer, ainda.
Daí ela foi embora.
Bateu a porta. Dispensou minha ajuda. Fugiu dos meus olhares.
Desceu o elevador levando mala, caixas e meus sorrisos foram embora junto. Acreditei que ela voltaria atrás até o último segundo.
Mas...
...assisti de camarote enquanto ela ia mesmo embora. Isso foi há quase dez horas. 
Sentada no sofá eu não sei por onde começar a reorganizar a bagunça, emocional, física. Tudo parece no lugar, mas só parece. E agora eu não sei o que acontece. E hoje é só o dia um.
O que é que eu faço com o vazio? Nada.
Vazio preenchido, então, pela falta dela nessa casa. Com a torcida silenciosa e incessante pra que ela volte pra buscar a xícara que esqueceu... E perceba, enfim, que também esqueceu... Eu.







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