Estou tentando criar uma nova rotina finalmente, tentando excluir um pouco mais das memórias dela de dentro de mim, exercitando não pensar sobre ela... e posso considerar isso até bom porque, infelizmente, mudanças na minha rotina são muito difÃceis pra mim. Enfim.
Confesso que eu já não acordo mais esperançosa em encontrá-la e acho isso um grande avanço pessoal, um grande passo. Masssss ainda continuo desejando secretamente que ela esteja por algum cômodo desse apartamento, como se nunca tivesse saÃdo.
A gente fica meio louco quando termina um relacionamento, né? Meio perturbado, cheio de manias de algo passado. Não sei explicar. A cabeça fica viajando por entre os caminhos estreitos que a saudade proporciona. Criando umas cenas malucas, lembrando de coisas que viveu. Eu fico querendo tudo de novo e ao mesmo tempo querendo não lembrar dela nenhum pouco.
Hoje enquanto eu fazia meu café, uma lembrança repentina me tomou... lembrei de quando eu a conheci. Da época em que começamos a nos tornar próximas. Eu ficava com uma amiga dela, mas era tudo muito ocasional, ela conhecia um ou dois amigos meus também, normal. A gente se conheceu na festa de aniversário de um amigo em comum, que foi num bar que ela achou chato e eu achei chato, daqueles com drinks caros e músicas ruins... Daà eu perguntei se ela topava fugir. Compramos cerveja dois quarteirões pra baixo do bar, sentamos em algum lugar e a conversa fluiu, meu coração sorriu, ali com ela. Lembrei do quanto fiquei feliz em descobrir e conhecer um pouco do seu gosto musical, saber que ela adorava poemas, mas sonetos não. Que ela falava alemão, inglês e um pouco de francês, e estava aprendendo espanhol. Que ela achava a mãe superprotetora, que o pai ensinou ela à fazer pipas quando ela tinha oito anos, e que ela tinha nascido no litoral, que achava São Paulo horrÃvel de morar, que se perdia no metrô no primeiro ano de faculdade, lembrei do quanto eu adorei saber que ela não tá nem aà pra mapa astral e que também não assistia comédia legendado, que fumava maconha, usava outras coisas mas nunca perdia a linha e tudo bem. Eu me apaixonei assim que a conheci, foi inevitável. E era engraçado nossos papos, sobre tudo, sobre absolutamente e abertamente tudo. O prazer da nossa própria companhia. Do quanto eu fingi que julguei quando ela disse que transou a primeira vez aos dezesseis com um namoradinho da escola, e do quanto ela também julgou quando eu contei que eu só perdi a virgindade aos dezoito, mas que já tinha comido várias minas antes disso e ela ficava indignada porque, segundo ela, eu tinha cara de safada. Quando me contou do primeiro porre, em um verão qualquer, ainda bem novinha bebendo caipirinha que o tio fazia. Me contou de cada paixão que ela já teve, e eu contei das inúmeras namoradas que eu já tive, tantas que nem lembro direito o nome de todas e à s vezes preciso puxar na memória porque com nenhuma delas eu tive uma grande história.
Antes dessa história...
Do quanto o vinho branco e baseado embalavam cada papo. Ela terminava a garrafa com um rubor muito único no rosto e eu terminava a garrafa me atirando pra ela. Geralmente sem roupa. Do quanto ela era uma romântica inveterada e eu picareta, falava pra ela que flores eu mandava pra quem morreu, pra quem tá viva é só água, uma cream cracker, maconha e buceta. Na verdade, eu sempre dava flores, buceta, poemas, tudo... Mas sempre a mesma piada otária, porque eu sei que ela sempre se acabava em risadas.
Pelo menos ela ria muito comigo - Pensei enquanto terminava minha xÃcara de café.
Quando foi que a gente deixou de ser feliz assim?
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