Subimos até o nono andar depois de uma caminhada apressada pela rua. É incrível o poder que ela tem de estragar qualquer dia que ela queira da minha vida.. Quando ela quer. E parece que ela sempre quer, é só uma observação pessoal minha mesmo. É incrível o poder que ela tem. Aliás... Que eu dou, né? Inconscientemente, enfim.
Ela se olhava no espelho do elevador, arrumava o cabelo como se pouco importasse a raiva pela qual nossos corpos estavam tomados naquele segundo. Mexeu no cabelo, olhou o batom, a roupa, tudo... Me encarou por poucos segundos naquele quadrado de lata... Mas quando ela me olhava, ela me devorava com o olhar... Não no sentido que eu gosto. Ela tem um olhar capaz de me transferir uma culpa que eu não sinto, que eu não carrego. Ela tenta fazer eu me sentir culpada em toda oportunidade que ela tem.
E outra observação minha é que parece que esse elevador demora mais tempo do que o normal pra subir. Ela teve segundos demais pra me provocar, odeio quando ela me ignora durante seus períodos de raiva, finge que não me escuta ou algo assim, insinuei que acenderia um baseado no elevador pra obrigar ela a olhar pra mim.
- Ei, tu não pode fumar essa merda aqui!!! Tá louca? - ela gritou, tirando o baseado quase aceso da minha boca.
- Foda-se. - respondi. Já que ela não morre de amores por mim, eu vou matar ela de raiva. Ora, pois!
Ela sabe exatamente como me tornar uma mulher destemperada, não que precise de muito, mas ela é expert nisso. A raiva é uma energia densa que eu tenho aprendido a lidar, mas nem sempre dá certo, e tudo bem, assim são nossos sentidos e reações mais animais, não é? Eu acho que o ódio é primitivo e o amor é mais moderninho.
Já na sala, ela me devolveu meu baseado, me sentei no sofá e acendi, enquanto apreciava nosso relacionamento puramente conveniente, acontecendo dentro de um apartamento inteiro decorado com os nossos silêncios pálidos, com nossa paixão morna, os quartos cheios de fodas requentadas enquanto deitamos e rolamos em cima de lençóis macios feitos de finais mal resolvidos. É sempre isso.
Mas eu quero mesmo me tornar alguém melhor.
Quebrei o silêncio perguntando como ela acha que se chama o que vivemos.
- Isso se chama amor. - ela me disse.
É sério? - pensei.
Amor.
- E o resto? - questionei e ela se calou.
Não sei se ela entendeu bem a pergunta, mas como eu não obtive minha resposta, criei uma. Se chama dor. É por isso que eu fujo mesmo e não tô nem aí, trepo com ela e sumo antes que ela atinja meu coração. Ela gosta da minha versão Taz. Não tem outra explicação. Ela gosta de dar pra mim com ódio... E tudo sempre acaba em vinho e sexo hard. O que antes era maneiro, agora me assusta.
E além do mais tem coisa que não vale a pena, sabe?
Será que em algum momento ela já pensou nisso com mais clareza?
0 comentários:
Postar um comentário