- O que foi? - ela me perguntou. Um tom preocupado, mas eu sei que serão tantos questionamentos que eu só quis ignorar a pergunta, o momento, tudo que eu sentia. Era só a ansiedade me convidando pra um chá da tarde às duas e pouco de uma madrugada incomum, adentrando a casa apertada que é minha cabeça quando eu estou na presença dela. Só ansiedade mesmo. Talvez a brisa do MD cobrando a conta. Talvez a brisa do álcool. Não sei. Mas só ansiedade, que piora sempre com o imediatismo que ela tem em relação à minha resposta,.eu odeio muito quando ela me pressiona com o mesmo tom que usava quando estávamos juntas, ainda. Aquele tom de cobrança com um misto de propriedade e autoridade. Eu não gosto.
Abri a janela porque o ar do quarto dela estava quente, tão quente que eu mal podia respirar. Coloquei metade do meu corpo pra fora e enchi meus pulmões com o oxigênio úmido daqui. Me permiti um momento rápido de observação, e nove andares abaixo eu... nada via. Olhei pra trás e observei, por alguns segundos, ela nua ainda.
Sabe quando você quer tanto algo, deseja, mas você acostuma que não tem e aquilo fica só na ideia? É estranho pra mim estar na presença dela, não me habituo nunca. É daí que surge a vontade de transar com ela e fugir. Não é sobre ela, mas sobre mim. Eu que crio expectativas demais sobre isso. A gente já teve muita conexão e hoje eu me sinto um tanto faz na vida dela, mas essa é só minha visão sobre tudo isso. E eu não tô nenhum pouco interessada na visão dela.
Eu amo essa mulher.
Eu sempre amei.
E hoje em dia eu trato isso com a maior gentileza que consigo, mas isso não muda o fato de que a gente só se reconecta no sexo, que dividimos o espaço com o tesão, nossas vontades pessoais e uma porção de sentimentos errados, sempre encurralados, encobertos pela vontade de transar uma com a outra que a gente sente.
Ela é a coisa mais dahora que eu já vivi na minha vida. Uma conexão extraordinária resumida à sexo, drogas e surtos matinais. A conexão só deve ter acontecido para mim. E tudo bem, enfim.
O amor não vai me levar aos pés dela novamente, só pra cama. Mesmo que na manhã seguinte eu sofra, mesmo que eu pense muito, muito, muito nela... Mas ainda assim eu dê preferência para outras.
Mas voltando... Olhei pra ela, enquanto ela ainda aguardava minha resposta.
- Só quero respirar. - respondi.
Não menti.
Percebi que às vezes eu pinto ela como um monstro nas histórias que eu conto. Ela só não é mais a mesma, escrevi textos apaixonados pra ela, palavras onde eu não a encontro mais. Onde eu não me encontro mais. Porque as coisas mudam. Tudo muda, então eu culpo a vida pelas mudanças, pela confusão, pelas palavras sem sentido, pela culpa que eu sinto, eu a culpo por tudo... Aí eu me lembro que preciso ser mais compassiva, até comigo, menos filha da puta... E logo desculpo-a.
0 comentários:
Postar um comentário