quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Eu acho mesmo que ela nasceu em Júpiter

A fresta de luz clara e amarelada proveniente do Sol invadiu a janela, bateu no meu rosto e me acordou. Olhei em volta e mais uma vez a rispidez do ambiente foi causada pela minha percepção danificada. Mas as primeiras horas da manhã me deixaram atônita e ansiosa, e não me soaram tão convidativas assim. Ainda mais quando notei que ela já não estava na cama. É sempre um amargor estranho acordar na cama dela, principalmente quando eu acordo sem ela. Enfim.
Ela estava, estranhamente, já acordada. Me aguardava com um baseado bolado, sentada no sofá na sala. Acendemos o beck e as primeiras conversas da manhã foram amigáveis, tranquilas. Fumamos enquanto conversávamos sobre assuntos genéricos e ouvíamos o som de algum desenho animado sem graça na TV, entre as pausas da conversa. Eu gosto quando ela se distrai. Eu gosto de tanta coisa nela que eu nunca contei pra ninguém, nem mesmo pra ela.
Lá estava, então... A pura paz matinal. Sem surtos. Sem crise. Hoje minha ansiedade bateu a toa. Não tive nenhum problema diplomático com essa mulher. Foi até confuso.
Às vezes acho que ela é capaz de ler minha mente. De se antecipar pra fazer totalmente o contrário do que eu acho que ela vai fazer, sei lá. E sobre mim: eu acho que perdi o jeito de falar sobre ela. Perdi o tato. Mesmo. Pra estar com ela.
Ela nem sequer lembra por alto a mulher que eu conheci e me apaixonei, eu sei que eu também mudei e nem digo que mudamos fisicamente, mas a cabeça hoje é outra. Fases e fases. Às vezes acho que estou conhecendo uma nova mulher, mas quando ela se aproxima muito eu penso que ela sempre será ela. A mesma de sempre.
Quantos e quantos textos de amor eu já escrevi pra ela? Quantos textos de amor com ódio? Em quantos textos eu detalhei nossas transadinhas casuais e deliciosas ou nossas discussões matinais? Inúmeras. Tantos que ela nem sequer imagina, nem sabe.
A questão é que eu perdi o jeito pra isso.
Eu não sei mais como falar sobre ela!
Logo eu. Que sempre tenho um elogio pronto para ela, que sempre oferto amor...  Ao mesmo tempo eu penso várias vezes que deveria ter feito uma escolha diferente na noite anterior. Mas isso não quer dizer que é um tchau, né? Nunca é.
Eu não sei o que falar sobre ela!
Logo eu... Que sempre posso passar uma demão a mais de tinta na imagem de mulher filha da puta que eu pinto dela.
Mas ela é isso, né? Quando eu tô convicta de que já não tenho sentimentos pra presenteá-la, quando eu acho que não tenho amor mesmo por ela... Ela volta mostrando pra mim que eu não sou capaz de deixar pra trás tudo que sinto e que se eu olhar e procurar direitinho na minha caixinha de afetos... O nome dela ainda mora lá dentro.
Eu não sei como falar sobre ela porque ela sempre me surpreende.


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