segunda-feira, 26 de junho de 2023

tipo o neo, eu me conecto

O vento gelado e constante invadia a sacada deixada propositalmente aberta por nós, e esfriava cada grau de calor existente naquele espaço. Impossível ser feliz no frio que tem feito no estado de São Paulo nos últimos dias, enfim.
Será que não para nunca de ventar nessa cidade?
Será que vai voltar a esquentar qualquer dia? 
A fumaça do baseado fugia pela sacada aberta, junto com nossas risadas e conversas. Era um início de madrugada qualquer dessas que eu sinto tanta saudade e chego até ela sem expectativas, sem explicar muito, sem falar nada, desarmada e guarda baixa, sem grandes histórias pra viver, sem projeções. Só a saudade dando as caras e eu aparecendo na vida dela do nada, eu gosto que ela sempre sorri quando me vê, por isso apareço. Eu gosto da companhia. Eu gosto mesmo, mesmo, mesmo dessa mulher, não estaria aqui se não fosse assim.
Dividimos tantos baseados que minha tosse não cessou, vimos passar várias horas sentadas no chão, escondidas na sacada, lado a lado, escondidas de nós mesmas, eu acho, da loucura que a gente cria toda vez. Enquanto conversávamos baixinho mesmo que nós estivéssemos sozinhas e que não tivesse nenhum segredo a ser contado, a ser escutado. Pelo contrário, às vezes sinto que estamos até mesmo desconectadas há muito tempo. Mesmo que a presença dela seja algo que eu já tenha desejado, às vezes sinto falta das conversas de verdade, com um pouco mais de consistência, pra mim hoje tudo que falamos soa como conversas de duas estranhas no elevador ou na fila do mercado, a única diferença é que ela jamais seria tão simpática fora da bolha composta de mil e um playboy otário e chato, que ela vive. Às vezes sinto falta da intensidade que costumava nos consumir e que nos fazia se consumir com muito mais frequência, sinto falta de quando meu peito queimava de amor e não de saudades, saudades e mais saudades...
Meu braço encostou no dela e me gerou um nervosismo amador, calor, eu busquei contato, encostar nela às vezes me parece necessário. Eu me sinto idiota, lenta, sem graça e eu sempre culpo o baseado. Ela percebeu e riu, encostando mais em mim. Não há nenhum outro lugar onde eu estaria senão hoje ao lado dessa mulher. Daqui, com ela, eu me sinto no topo do mundo. Lembro de tudo, tudo que nos envolve. Tremi, mas o frio não tem culpa. Estática, não olho cara a cara. Mesmo que depois de tantas vezes na presença dela eu consiga até esconder melhor o nervosismo, o coração acelerado em qualquer contato, ainda me sinto como na primeira vez. Ela me olhou, fez aquela cara dela que eu amo e então eu a beijei. Com um pouco mais de coragem dessa vez. Ela retribuiu o beijo, mas mesmo assim eu me sinto fazendo tudo errado, invadindo o espaço dela. Eu passo o dia pensando nisso depois, me deixa feliz e ao mesmo tempo tão triste, mas me inspira. Relacionamento ying yang, ping pong, chiclete esticado da porra.
Eu escrevi um milhão de poesias pro caos que ela é, eu tive um jantar romântico à luz de velas com os medos dela, eu transei forte com o ego dela só pra satisfazer o meu, terminamos ambas infladas, mergulhei cinquenta mil vezes na falta que ela me faz, todas as vezes dizendo que a era a última e em todas as tentativos - logo após - acabei afogada na saudade com o coração dela amarrado aos meus pés, tirei a timidez dela pra dançar muitas vezes por essa casa, com maestria dançamos toda noite bêbadas da vinho, na sala. Declarei meu amor num outdoor e em seus ouvidos, estampei sorrisos nesse rosto lindo. Ela ainda dorme com meu moletom às vezes, tem medo de raios, menos dos que sobem pela narina dela, curte o mesmo tipo de som até hoje, só bebe destilado. Eu gosto dela porque eu posso ser eu mesma ao seu lado, na sua cama, na sua casa principalmente nos momentos que ela me tem de um jeito que ninguém mais tem, momentos onde eu sou só eu, despida de qualquer coisa que não seja conveniente ao momento, sentada no chão da casa dela, fumando um green e a ouvindo falar sobre qualquer coisa ou filosofar qualquer uma dessas filosofias banana sobre a vida, veganismo, pilates e namastê... Acho que sigo apaixonada por aqui.


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