sábado, 24 de junho de 2023

claro, claro, claro que eu mudei

Eu queria que ela descomplicasse a situação, às vezes penso que eu queria que ela gostasse de mim do jeito que eu quero, que eu idealizo e talvez seja somente amor o que eu espero, mas do meu jeito... bem egoísta assim, que se foda, eu queria que ela gostasse de mim além dos longos e longos minutos onde eu me encontro cega de amor, e de olhos fechados metendo dois ou mais dedos de forma intensa e incessante na buceta dela durante nossos banhos quentes, durante nossas noites secretas, durante nossas tardes amenas. Ela acha frio e direto a forma que eu escrevo, eu acho frio tudo que ela faz conosco, e se tem uma coisa que ela nunca consegue ser é direta e posicionada.
Às vezes penso que ela também busca amor do jeito dela, por isso a gente não se entende nunca, porque quando eu cedo ela me faz achar que fui otária, que eu sou um desperdício de tempo e me gera uma fila de traumas, mas o que me deixa realmente chateada é que ela me faz desperdiçar as manhãs, não aproveitar o Sol enquanto ainda posso. E quando eu não cedo, ela me pinta um monstro, bem vilã. Eu cansei de esperar qualquer coisa que venha dela, mas sigo no erro. Sei que deveria quebrar as correntes que me prendem, encerrar os ciclos. Mas ela fica mais gostosa a cada vez que eu a vejo. Por ora, impossível.
Às vezes eu não sei o que dizer, então me mantenho em silêncio enquanto minha cabeça analisa friamente tudo que acontece à minha volta, procurando uma forma - seja qual for - de mudar a situação para torná-la favorável a mim. Calmante. Sempre assim. Rato foge, é isso que um rato faz. Rato não encara as situações, não se importa com as consequências, não cria laços, só pensa em si, apenas é mestre em fugir rapidamente de qualquer coisa que sinalize uma ameaça. Quanto mais ela me  aperta, quanto mais ela me sufoca, quanto mais ela me pergunta, briga, surta... mais lisa eu fico. Eu não tenho dom pra vítima, e minha maior arma ainda é me manter em silêncio. Às vezes eu realmente não sei o que dizer.
Porra, eu queria entender a gente... Mas eu perco muito tempo divagando entre o amor que eu sinto e o ódio que às vezes entra em cena tendo o mesmíssimo tamanho e peso do amor. Nem parece que somos o casal que se procura pra caralho, que há três ou quatro horas atrás estava na orla tomando cerveja, que há umas horas atrás tava trepando na sala de estar. E o ódio vem toda vez que eu penso porque ainda fico ali, porque não sei trepar e meter marcha, deixar ela lidar com a bipolaridade dela sozinha, ou sei lá que porra que  essa mulher tem de tão desarrumado assim dentro dessa cabecinha. Eu me perco em mim enquanto ela fala, eu não presto atenção em nada, penso que cansei de brigar, de lutar contra, de me sentir na obrigação de me defender.
O tempo muda tudo e às vezes me esqueço disso. O tempo mudou meu rosto, meu corpo, minhas roupas e meu coração. Mudou meu cabelo, as ruas por onde eu ando, mudou quem eu amo. Mudou tudo. Enfim. Acho que devo ter uma leve tendência de ser idiota comigo mesma, me expôr ao risco, me deixar levar por buceta e às vezes até mesmo menos que isso. E olha que buceta nunca faltou, só mesmo a minha paz que nunca está em dia.
O amor é tão urgente quanto é incômodo e em contrapartida, às vezes e somente às vezes, eu tenho uma leve tendência a jogar tudo que me deixa em paz pro alto e me permitir fugir a regra, me permitir errar e ser otária comigo mesma.
Mais uma vez, nem vou fingir surpresa, lá estava eu. Olhando pro rosto dela enquanto lidava com essa merda de comportamento estranho que ela tem quanto a minha vida e lidando também com o vento gelado madrugadeiro que entrava pela janela do quarto dela aquela noite, ambos cortantes, paralisantes. Eu só sei lidar com tudo ao mesmo tempo ou com nada nunca. 8 ou 80. Sonsa ou filha da puta, mas nunca morna.
E sendo bastante honesta, o tempo também mudou minha forma de pensar e de agir se eu resolvesse ser da mesma forma que ela, eu sei que isso faria facilmente com que ela odiasse e como um prêmio infantil e pessoal, vingança, sei lá que porra, é só uma suposição, mas talvez e só talvez eu fizesse com que ela me odiasse... um pouco mais dessa vez.


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