Meu coração acelera como se pudesse rasgar o peito, como se fosse possível ouvir as batidas aceleradas e descompassadas, ansiosas há metros de distância. Dói o peito. A dor é física, entende? Dói pra caralho. A nuca pesa. Minha veia da testa pulsa.
O ar não vai passar (passou).
Uma sensação sombria que eu não controlo, ainda. Minha cara fecha e olha que já sou fechada pra caralho. Destravo a peça de metal, eu poderia acabar com isso rápido. Acho. É só um botão. Agora.
Eu grito pra assustar a energia ruim, funciona na minha cabeça. Grito no banheiro todo dia. Em qualquer banheiro. Em qualquer horário.
Tudo vira gatilho.
Travo o gatilho.
Coloco a peça na mesa.
Que dia do caralho.
Que semana do caralho.
Pourquoi est-on ici ?
Quel est notre but ?
Notre rôle ?
Minha mão treme, não me soa confiante, confiável, nem firme. PACIÊNCIA. Eu tatuei pra me lembrar de ter alguma. Só que ainda não tenho.
Eu poderia MESMO encerrar todos meus problemas agora, agorinha mesmo. Não sentir mais nenhuma agonia, nada. Sem imersão em sensação ruim nunca mais.
Apagar.
Resetar.
Minha respiração acelera. Pesa. É como se o ar fosse massinha, não vai passar pela minha narina. Não vai entrar ar, acho. Mas entra sim. A dor no peito volta e pesa mais, eu vou morrer de qualquer jeito, todo mundo vai. Caralho.
Às vezes me distraio por meio segundo, mas a sensação me puxa de volta. Volta depois, logo no segundo depois.
Eu queria um botão que apagasse isso.
Que fizesse tudo ser diferente.
A peça na mesa é tentadora, eu pego e seguro mais forte, mas que merda, que tentador. Eu não confio em mim, de vez em quando.
Vivre vite.
Mourir Jeune.
E que se foda.
Meu sangue é frio, eu sou calculista.
"Eu não aguento mais olhar paredes, eu quero ver o céu." - a mina ri, balança a cabeça e me chama de problemática. "Problemática do caralho.", foi o que ela disse.
É.
Só mais uma louca que me pega mas não me conhece.
Escondi a peça no porta luva dela enquanto ela dirigia até minha casa, o plano b foi pular do carro em movimento. Mas que inferno, puta que pariu.
Eu não sou herói. Heróis não tem graça.
Eu gosto de fazer aquilo que dizem que não é o certo. Juro que conseguiria, mas às vezes, acho, seguir viva minha é minha maior prova de coragem, no papo.
Hoje não e inclusive, obrigada Zé.
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