19h19, apontou meu velho relóginho dourado.
Era só mais uma noite onde eu estava cansada de tentar controlar tudo, de até conseguir algumas coisas e outras não, e principalmente cansada de tentar controlar o sentimento. Hoje eu tô fugindo de fugir. Mais uma noite satisfazendo o prazer do erro. Satisfazendo a vontade de burlar regras mesmo, qualquer regra. Eu estava lá. Encarando meu maior e mais delicioso erro de frente, a meio passo de distância de errar novamente. Eu não aguento o cheiro dela sem querer agarrar ela, sem querer ela em cima de mim.
Olha o rato virando hamster de estimação e se prendendo na ratoeira por livre e espontânea loucura da minha cabeça, ou sei lá. Acho que nem importa tanto agora, sabe.
Eu estava na porta dela, da otária linda do nono andar, dessa vez em pleno comecinho de noite. Às vezes eu fico cansada desse ciclo também, vinho, buceta, droga, água com sal, elevadores, avenidas, rotatória, mágoas, orgasmos, alegrias e arrependimentos. Uma bomba de felicidade e ela roubando todas as minhas "inas" depois, mas caralho... Queria entender o que dá em mim quando a gente atinge a vibe boa juntas com vinho, droga, buceta ou nada disso, mas é só a sensação mesmo de saber que ela gosta de me encontrar, do quanto eu amo ser recebida pelos olhares felizes e atentos dela aqui, na rua, nas praças, em qualquer canto dessa cidade ou de qualquer outro lugar. O sorriso dela só porque tá me vendo. Do quanto meu peito explode alegria em seu estado mais puro ao encontrá-la. Eu gosto dela, no papo, eu me sinto bem com ela. Ela me balança igual o mar balança o barco. Queria encapsular a felicidade que eu sinto quando ela me olha com cara de quem queria que eu estivesse ali mesmo, ali exatamente onde quer que eu esteja, mas com ela e que se foda, a gente é mó casal ioiô da porra mesmo. Casal? A definição de casal não cabe pra nós e eu sei que meu sentimento é egoísta, eu não consigo imaginar o impacto que minhas atitudes tem sobre ela, eu não fico calculando porra nenhuma, eu chamo a gente de duplinha de filhas da puta porque, particularmente, eu não sei lidar com o sentimento dela e acho mesmo que é mais válido eu viver a experiência e lidar com o que vier de negativo depois. E se não der pra lidar depois pelo menos eu fiz o que eu queria fazer. E me contento com isso. Nem tudo é sobre mim, mas eu só vivo a minha vida então ela não me faz sentir culpa, eu nem tô aqui atrás de desculpas. Eu vim buscar afeto, afeto dela. Saudade do cheiro, do beijo, do abraço, do gosto do café dela. Saudade de falar pra ela que eu só me apaixonei por ela porque ela saber bolar meu beck e eu mesmo maconheira pra caralho nunca aprendi. Eu vim porque eu queria muitíssimo estar dentro da gaiola que é o olhar dela. Eu queria me prender um pouco. Pura sensação de pertencimento. Eu só quis estar aqui mesmo que isso gere muito incômodo no meu peito depois.
Às vezes chamo isso de recaída.
Enfim.
Ficamos alguns minutos abraçadas no meio da sala, eu amo sentir o cheiro do cabelo dela. Isso me fez lembrar que abraço é a única coisa que fez parar quieta e por isso às vezes eu não gosto tanto. Mas ali, no momento, me trouxe paz, foi como por pelo menos uma vez na vida não parecer que eu nadei, nadei, nadei e morri na praia. Entrelacei os dedos no cabelo dela e isso foi como me reconectar com ela. Beijou meu ombro, meu pescoço, meu queixo e minha boca, o que faz sempre e eu adoro, retribuí o beijo com todo afeto que meu coração permitiu e segui fazendo um cafuné lento.
Tudo em silêncio.
Às vezes eu só queria poder não falar nada mesmo. E tudo bem.
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