Eu odiei muito mesmo a expressão de desapontada que se fez no rosto dela assim que ela bateu os olhos em mim. Pura desaprovação, puta questão de demonstrar a desaprovação e por um segundo ela quase fez eu me sentir culpada por seguir minhas próprias vontades, por ter opinião, por me posicionar em relação à coisas que me envolvem, agindo da mesma forma com a qual ela agiu nossa história toda. Ela é a única pessoa que consegue me deixar arrependida por ter feito algo que eu quis fazer, no papo. Ela funciona como um freio e me breca sempre. Olhando na minha cara, balançou a cabeça em negativa porque ela é debochada pra caralho mesmo, mas me abraçou mesmo assim. Eu não quis falar nada, só disse oi, fiquei procurando qualquer coisa pra falar mas não achei nada. Ela também não quis falar nada, me abraçou apertado e respirou fundo, foi quase como um relaxamento. Mas ainda assim, não disse nada. O silêncio dela é sempre o pior porque me desespera pra botar um sorriso na cara dela, porque rasga meu coração igual papel e eu nem sei porque falam que a gente ama com o coração. Acho que gente ama dentro da cabeça da gente, sei lá... Que se foda. Pelo menos ela mora na minha cabeça. Às vezes gostaria de ter perda de memória somente para esquecê-la de vez, pra ela se perder dentro da minha cabeça.
Enfim.
Eu preferia mais quando ela soltava tudo mesmo que de uma forma acusativa e otária sem me dar chance de defesa. Depois de algum tempo ela parou de me cobrar coisas que ela não devia e só sumia. Era sempre a mesma fita: chá de buceta seguido de chá de sumiço, puff. Pisquei sumiu, basicamente o mesmo que eu fazia. O inverso é foda porque quando ela some por muito tempo eu chego muito próximo de surtar, é como se ela necessitasse de algum tipo de observação sempre, é como se eu quisesse manter ela dentro do meu domínio.
Eu quebro os acordos.
Eu sou tóxica.
Eu manípulo as situações ao meu favor.
Eu sou explosiva.
Eu sou egoísta.
Eu já usei muito o sexo como vingança, porque eu sabia que só o fato de ela desconfiar que outras mulheres transavam comigo mais gostoso e com mais frequência do que ela, a afetava. Hoje eu só quero paz, nada mais, só a quero em paz também. Mas ela é uma das poucas coisas que eu tenho certeza absoluta que realmente é capaz de me deixar pra baixo, sempre deixou. Porra de semi relacionamento de otário do caralho. Cíclico.
O olhar dela é uma mistura com medidas exatas de desapontamento, tristeza e raiva... Mas desceu pra me ver, me convidou pra subir porque eu sei que sempre tem saudades e algum pingo de afeto escondido ali, escondido entre as camadas da raiva. Eu não me importo com ninguém na mesma medida com a qual me importo com ela, com o bem estar dela.
"Tem chovido pra caralho aqui, né?" - perguntei enquanto a gente subia pro apartamento dela numa tentativa sem sucesso de quebrar o gelo. Me perguntei por quanto tempo ela faria esse jogo infantil de me ignorar. E eu odeio muito ser ignorada, ela sabe. Então pra fingir que não me atinge eu ignoro o clima ruim às vezes, eu forço uma conversa, um diálogo, eu gosto de fingir que não tá acontecendo nada, que tá tudo bem, mesmo que minha cabeça esteja a milhão, conflituosa, mesmo que meu peito ferva afeto, eu não vou deixar isso chegar até ela. É comigo mesma que eu resolvo a situação, então eu aprendi à ser fria em relação à isso, até. Ela não. Ela projeta em mim as inseguranças que ela adquiriu depois de mó cota se relacionando comigo, e eu não sei o que ela espera de mim. Às vezes me pergunto se vale mesmo a pena tudo isso ou se eu tô fadada ao ciclo de ser a válvula de escape da vida dela e vice versa. Amor da cama.
Eu não sou mais a piveta perdida no mundo enquanto morre de amores por ela. Mas ainda morro de amores por ela, mesmo que o amor mude e tenha muitas faces, acho. Eu não a quero pra mim. No papo. Eu não me vejo num futuro com ela.
Enfim. Lá estava eu numa bad vibe do caralho com ela, longe de casa, me senti um rato com os pés atados. Desci no oitavo andar com ela, sentamos na escada entre o oitavo e o nono... e foi silêncio total, pensei em acender um beck somente pra ela me xingar.
A cidade estava cinza, apática, fazia frio também. Dentro e fora do nono andar. A sensação que eu tive é de que os olhos castanhos da cor da tempestade que chega poderiam fazer nevar lá fora. Juro.
Já dentro do apartamento me serviu uma dose de whisky, ficamos um bom tempo sem falar nada. Depois de algum tempo que eu estava em agonia, a cara dela já não mais tão fechada. Queria apertar um botão e fazer todo o mal estar desaparecer.
Situação assim me fazem querer cortar os laços, coisa que acho que eu já deveria ter feito há muito tempo.
0 comentários:
Postar um comentário