sexta-feira, 23 de maio de 2014

Vazio.

Abro a porta. Entro em silêncio, jogo a chave em cima da mesa e me sento no sofá. Todos os dias têm sido assim: quietos.
As flores que ficavam na sacada morreram. Tuas flores... Aquelas que eu lhe dei ainda em botão no dia do seu aniversário. Eu nunca mais cuidei delas como você cuidava. E, aliás, eu nunca mais cuidei de mim também. O apartamento parece maior, mais cinza, mais frio e duas vezes mais vazio, tendo em vista que já nem eu mesma passo tanto tempo aqui dentro. É insuportável estar aqui, conviver com este vazio, há um vácuo, um espaço a ser preenchido, um ar sufocante que habita aqui dentro e convive comigo desde que você juntou suas coisas e saiu por aquela porta. Ando mais sem foco agora, sabe? Um pouco mais sem sal. Durmo menos, passo (quase) todas as madrugadas acordada me divertindo com amores de uma noite ou duas. Desde que você saiu eu já perdi a conta de quantas fotos suas ou nossas eu já rasguei, de quantas músicas eu tive que parar de ouvir só por me lembrar do seu sorriso. Eu já perdi as contas de quantas vezes eu tentei te apagar. É desesperador, guria. E de qualquer forma, eu nunca tenho sucesso nessas tentativas mesmo... 
As estrelas que brilham no escuro ainda estão lá coladas no teto, eu odiava, lembra? Mas resolvi manter da forma como você deixou, talvez numa esperança babaca de você voltar qualquer dia desses, e brigar comigo por tê-las tirado de lá. Eu ainda espero, mesmo sabendo que você não vai voltar. Meu casaco ainda carrega teu cheiro, meu coração ainda carrega você, minha mente carrega cada uma das lembranças. Ainda lembro exatamente da cantada barata que te dei no nosso primeiro encontro e do quão bonitinho você achou aquilo e do seu sorriso, segundos antes de me beijar.  Eu  lembro de tudo isso, todos os dias, ainda te procuro pelo apartamento ou pela (nossa) cama durante a madrugada. Há dias não vejo rostos conhecidos. Sinto-me sozinha. E toda noite é igual, minha menina. A solidão é um turbilhão de sentimentos ruins me puxando bem pro olho do furacão, pro centro do caos. Não há mais nenhum porto seguro aonde eu posso me esconder e não há mais como me agarrar. E nós? Já nem somos mais “nós”.
Te liguei algumas vezes durante a semana, achei que você pudesse me atender, talvez conversar comigo ao menos por alguns segundos; Não por nada, é que você costumava ser minha melhor amiga e de vez em quando eu sinto saudade das suas broncas, dos teus conselhos. E acho que me adaptei a falar com secretária eletrônica. Já não há mais o que possa ser feito. E então, desisto, acendo um cigarro, coloco mais uma dose de uísque no copo e ligo pra um número qualquer, só pra ouvir alguma voz e enganar minha solidão. O vazio continua aqui dentro.



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