sexta-feira, 23 de maio de 2014

Pluie.

Mais uma vez, de forma obsessiva e ridícula eu falo sobre isso. Vamos lá.
Chove lá fora. Chove muito. O frio é agressivo. Tudo é frio. O chão, a cama, o coração... Se nesse momento eu pudesse arrancar meu coração, lhe digo que provavelmente ele seria um bloco de gelo. A chuva é incessante, guria, chega a me dar uma agonia olhar. Talvez eu tenha chorado mais água do que toda essa chuva já choveu pra te falar a verdade.
O espelho do canto da sala agora me revela em uma imagem distorcida do que eu costumava ser, um rosto um pouco mais envelhecido, uma expressão cansada de quem não dorme já há algum tempo. Um cansaço físico e mental. Sou eu ali? – Me pergunto. – Quem mais poderia ser? Eu já nem me reconheço mais. No criado mudo ao lado da cama ficou o livro que você esqueceu – ou talvez tenha deixado de lembrança, não sei. – sua aliança, com meu nome gravado e não tem data... Você e essas suas manias de “data é coisa de gente que vive de passado.” e eu com o meu péssimo hábito de nunca lembrar. De qualquer forma, já fazia tanto tempo né. Tudo continua intacto. Exatamente da forma como você deixou. Nada realmente mudou, acho que em lugar nenhum. Continuo andando pelas mesmas calçadas e indo aos mesmos botecos que você odiava e algumas vezes até tomo sua cerveja preferida – que continua sendo horrível, diga-se de passagem – pra lembrar mais de você... Como se eu precisasse lembrar mais de você, eu já faço isso o tempo todo. Às vezes fico ensaiando diálogos que a gente bem provavelmente nunca vai ter. Meus amigos dizem que eu mudei muito desde que você se foi. Dizem que eu faço um puta drama digno de novela mexicana com tudo isso. Acho que eles querem dizer que toda minha parte boa era você. Talvez fosse. Talvez sua presença me tornasse um pouco mais doce, alguém que conseguisse enxergar o mundo com uma forma mais positiva ou coisa que o valha. Eu não se explicar.
E continua chovendo. Dentro e fora do apartamento. Talvez mais dentro do que fora. Talvez mais em mim do que qualquer outra nuvem. Eu sinto sua falta. Eu sinto falta até das tuas manias irritantes. E eu aposto que a cidade toda entraria em festa ao te ver cruzar todos os bairros até chegar à minha rua. Acho que até pararia de chover.
Acho.



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