domingo, 26 de janeiro de 2025

como um gatilho sem disparar, você invade mais um lugar onde eu não vou

Como que pode isso acontecer entre nós? Em determinado momento, eu senti o olhar dela em mim. O calor incomum que ela me gera, calafrio foi automático, eu senti a presença daquela mulher e que coisa estranha que foi. Recebi a sensação com estranheza. Minha mãe dizia que eu e essa mulher tínhamos uma ligação espiritual, mas às vezes eu penso que essa ligação só chama, chama e chama... E nenhuma de nós atende. Parece loucura , eu sei, mas cinco minutos depois o oi no meu ouvido - enquanto minha companhia tinha ido ao banheiro ou sei la fazer o quê - confirmou minhas suspeitas.
Ela estava lá.
Que felicidade.
Que ciúmes.
Que saco.
Mas que merda.
Que grande delícia da vida é a possibilidade de poder derramar meus olhares sobre aquela mulher.
Meu Deus, como é que pode? - pensei. Ela deve ter um rastreador instalado na minha buceta. Deve sentir meu cheiro quando eu tô prestes a foder com outra, deve me caçar, me farejar, eu faço e faria igual, foda-se.
Eu não tive muito tempo de reação, eu não esperava esse encontro, não poderia prever que ela escolheria o mesmo rolê, pelo menos não na mesma noite. Mas ela estava mesmo lá, não era minha imaginação me pregando uma peça, era mesmo ela.
Ela e seus cabelos, seu cheiro, sua pele queimada, os olhos castanhos... Tudo. Um shake de confusão e delícia. Gata pra caralho.
Não eu tivesse marcado nada com ela aqui. Não que eu penso que ela pudesse de alguma forma, saber que eu estaria aqui e porra, não que fosse ela a mulher por quem eu rasguei o asfalto na fúria de chegar aqui. Mas é sempre tudo sobre ela, né? Até quando não é.
O rato sempre cai em armadilhas, né? Seria essa mais uma, então?
Não sei, mas novamente eu caí.
Antes das duas horas de uma madrugada superaquecida pertinente aos nossos janeiros, eu estava com ela lá, vocês sabem onde. Foda-se tudo. É sempre ela. Lá estava eu beijando seus lábios com a mesma intensidade da juventude, por entre as mesmas perigosas ruas dessa cidade velha com cara de colonial e que se foda, ela impera meu coração. Eu sempre venho, eu sempre volto, né? Nada de novo, além do de sempre. Noites calientes, brigas matinais tão quentes quanto o café e voltas subsequentes logo após os términos, às idas, tanto faz.
Foi só mais um encontro com um pouco mais de teor alcoólico e saudade. E se é de interesse de alguém a parte divertida da história, eu acabei a noite trepando com ela no nono andar, na cama de lençóis caros, no mesmo apartamento branco.
Não vou agir como se eu não viesse pra esta cidade sabendo que eu posso encontrá-la em qualquer esquina, em qualquer bar, não que eu espere por isso, mas sei que com sorte um encontro igual de hoje e com revés eu ter a péssima experiência de encontrá-la com outra mulher. Mas vê-la é sempre uma coisa extraordinária, deliciosa, mas confusa, sem um preparo anterior me deixa estranha, me puxa pra fora da linha da realidade mesmo, é como se me colocasse em um mundo paralelo, como a sensação de estar sonhando mesmo.
Eu amo essa mulher.
Eu odeio essa mulher
Eu não sei mais o que eu sinto por aquela mulher.
Eu sinto tudo e às vezes acho que não sinto nada.
Eu vou falar mesmo dela em toda oportunidade que eu tiver, talvez pra me livrar dela de vez, talvez pra sentir ela um pouco mais perto.
Enfim.
Eu gostei de tê-la visto.
A tempestade não chegou pela manhã.
Minha saudade é um eterno vai e volta, igual meus dedos dentro dela, é uma eterna espera de um novo contato. Nasci, cresci e vou morrer rato.
Mas, honestamente? Eu nunca mais volto naquele bar. Provavelmente, nem ela.


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