O sábado quente nos convidava para uma estendida a mais, só mais um pouquinho de tempo fora de casa, só mais uma ou duas ou três ou várias horas a mais divididas com ela.
Pelo menos era o que eu desejava, eu estava com tanta saudade dessa mulher que pra onde ela quisesse me levar eu iria, com certeza, sem pensar muito. Tanto que eu nem sequer questionei quando ela me pegou pela mão e fomos descendo a viela, deixando lá trás o baile, que já com o som bem mais distante nos permitia um diálogo claro e sem precisar gritar pra ser ouvida.
Embebidas em felicidades, eu a assaltei com um beijo, encostadas no muro de um boteco que tinha um monte de gente bêbada dentro. Eles pareciam felizes dançando uns com os outros num entrosamento que só se vê em locais assim mesmo, tanto que sequer nos notaram, mas tenho certeza que também não estavam mais felizes do que eu estava naquele momento. Eu quis tanto esse beijo a noite inteira.
Continuamos nosso caminho, pensei que sou apegada às memórias como um todo, ao clima que estava no momento, à roupa que eu usava em alguma ocasião x e principalmente a música. Eu sou muito musical, eu gosto de valorizar ou estragar músicas que eu amo oferecendo elas pra ocasiões banais e pessoas idiotas, mas ali, naquela situação tocava Barões da Pisadinha, no bar.
- Aposto que eu fui a primeira mina que você beijou ouvindo Barões da Pisadinha. - eu falei e ela riu, me olhando com ternura.
- Poderia ser Bowie ou Chet Baker!- ela respondeu.
Eu entendi o convite, quer dizer, na minha embriaguez leve eu entendi como um convitinho desses que eu gosto, afinal a primeira vez que transamos, quando ela gozou tocava Chet Baker. E além de tudo ela sabe que eu gosto muito de Chet Baker. Eu fiquei feliz por ela ter se lembrado desse detalhe.
- Poderia ser um vinho, né? - apontei pro copão do whisky com energético, do mais barato.
Foi praticamente uma ideia, praticamente uma lâmpada que se acendeu em cima da nossa cabeça.
De repente lá estávamos nós, novamente na casa dela, rasgando a madrugada. Eu estava feliz por estar lá, à vontade, com a luz vermelha decorando minha pele e na melhor companhia existente.
Depois do primeiro beijo que eu dei, eu ganhei vários depois... E posso afirmar que a língua dela é mais gostosa que poesia vagabunda, vinho, meu baseado enroladinho e Chet Baker.
Estar ali, ao lado dela, contemplando um momento muito pessoal de muita paixão sendo vivida, sendo criada. Foi único.
Enfim, as taças abaixo do limite aceitável já me avisavam que eu ia ter uma bela dor de cabeça amanhã, se eu não queimasse logo esse álcool rápido do meu corpo.
Nos beijamos com a paixão de sempre mas com mais saudades que o normal, a língua dela tocando a minha sem preocupações era poesia, meus dedos cravados no seu quadril, puro Chet Baker, My Funny Valentine, Tenderly, I Fall In Love Too Easily... o calor do momento, o tesão nos faz ignorar qualquer coisa. Permanecemos apreciando o momento nos beijando apenas, nos despindo devagar, no meu colo eu senti o calor e o molhado e quente da buceta dela nas minhas coxas, implorando pela avidez dos meus lábios, senti sede, o momento me engolindo, eu queria só escorregar dois dedos pra dentro dessa mulher e essa vontade estava me consumindo. Eu quis isso a noite inteira, também.
Alguns bons minutos depois, a gente não aguentou, óbvio!
A delícia da introdução de Heroes, do Bowie, tinha gosto de um amor juvenil daqueles que nos fazem perder o juízo, trepar no muro do bar, na viela... Ou aqui.
- Essa música tem tudo a ver com a gente aqui e agora... - ela sussurrou entre gemidos.
Não sei se entendi bem o que ela quis dizer, mas o tesão move tudo. Dá um novo sentido pra tudo.
Meus dedos molhados rabiscaram poemas em seu corpo ansioso por novas linhas, que agora são minhas. Ela fica ainda mais gostosa quando está nua, vestida somente com a intensidade das minhas poesias. O orgasmo dela, os gemidos e quando ela escorreu, tudo me soou como palavras entre meus lábios. Minha língua e a buceta dela conversam num idioma único e muito bem falado. Fluído.
E eu arduamente torci para que a música nunca mais parasse.
2 comentários:
Saudade de quando você escrevia sobre ursos polares...
Mas eu escrevo... https://trataessaloucura.blogspot.com/2024/03/ai-flor.html
Postar um comentário