quinta-feira, 22 de agosto de 2024

depois de varar madrugada, esperando por nada...

Quase três da manhã e a mensagem totalmente inesperada pipocou na minha tela:
"Por que você nunca mais escreveu pra mim?" ✓✓
Porra. Eu não sei porque, mas penso em você todos os dias. Todos . Desde quando eu era uma piveta muito chata, que se achava bem adulta aos dezessete e fumava cigarros de maconha escondida na rua de trás da minha escola, desde esse tempo eu penso em você todos os dias, nada mudou totalmente e ao mesmo tempo nada está igual.
Eu ainda moro no mesmo lugar, sabe? Aquela rua do meu bairro ainda cheira a bolacha de baunilha, todas as vezes em que passo por lá eu penso em você, eu lembro dos baseados e das pontas dos seus dedos nas minhas mãos enquanto me ensinava à bolar. Eu aprendi agora, só.
Agora eu penso nas crianças hoje saindo da escola, tão crianças... e me assusto, será que ainda tem pivetes fumantes no meu esconderijo? Nunca saberemos.
Tem dias em que você vem fracionada pra mim ao longo do dia, em pequenas doses de saudades e por dois segundos penso que você é filha caçula, aquariana nata, inteligente, demora a vida pra responder uma mensagem porque passa muito tempo olhando o céu, frequenta saraus, ama física, lê sobre a teoria Gestalt, dormia com o sapato novo quando era criança porque não queria tirar, não dança bem, tem tatuagens engraçadas e tem um seio consideravelmente maior que o outro.
Em outros dias que penso de forma mais encorporada, mais solida. Me vem seus dedos e sua língua, me invadindo deliciosamente a memória, por completo. E penso nos toques hipersensíveis trocados em anos que viraram energia nuclear mega acumulada, segundo você.
Eu sou ainda hipersensível ao seu toque?
Um dia te dei um soneto bobo que te escrevi, escrito atrás de um recibo que encontrei largado na sua cozinha, você leu, pregou ele na geladeira e me abraçou tão forte que eu senti todos meus átomos colidirem violentamente gerando o maior campo de força do universo no meu peito. Naquele dia eu achei que ia virar o maior buraco negro e sugar todo universo pra dentro do nosso abraço. Eu morei naquele momento. Ainda moro, às vezes.
Tem dias que penso no seu olhar que quando me olha causa um impacto de planetas dentro de mim e me rouba o ar todo, e no seu olhar vejo um sopro de felicidade que antecede algum acontecimento muito interessante e um pouco de cansaço.
Eu não sei porque não mais te escrevi, mas eu acho que pode ter a ver com a maioria dos dias em que eu penso em você. Naquele milésimo de segundo que cabe minha vida toda, minha saudade inteira, a vontade que eu tenho de que você esteja sempre em algum lugar aqui, dentro de mim.
Eu não esqueço do filme que marcamos de ver e nunca fomos porque a gente sempre preferiu outras coisas e ele acabou saindo de cartaz e eu nunca vi esse filme depois.
Você assistiu?
E lembra do bar que eu sempre quis te levar?
Fechou há anos, acredita?
Você disse, diversas vezes, que eu sou uma garota dos infernos. Hoje sou uma mulher dos infernos, escuto sempre e a sua voz ainda ecoa quando escuto.
Mas além disso, o depois não cabe mais em mim, não acomoda.
Você faz as coisas que quer fazer. E eu não costumo pensar nada sobre isso.
O tempo passou pra caralho pra nós, sabemos. Mas para que não se esqueça, aqui lhe escrevo dizendo que sim, eu penso em você todos os dias. Não te escrevi porque palavras nunca foram e acho que nunca serão suficientes.


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