Há coisas que ela deixou comigo que eu não queria guardar, eu juro. Eu não sei onde deixar o sentimento, por exemplo. Onde guardar os beijos que moram no meu pescoço, os amassos lentos que dávamos no elevador. Eu não sei onde colocar nossos momentos felizes, nem como descartar os momentos terríveis.
Como guardar tudo isso dentro da memória? Onde fica o amor dentro da gente?
Eu não sei.
Ao mesmo tempo que eu gostaria de ser capaz de apagar essa mulher da minha história, eu me encontro aqui... vivendo mais uma sexta a noite com ela, nós duas dançando forró no meio da sala dela, ela diz que estamos ensaiando a valsa do nosso casamento e eu dou risada, seguimos conversando, fumando um prensado vagabundo nessa crise de maconha e sabendo que assim que a nossa terceira ou quarta taça acabar nós vamos transar - e sempre foi assim, diga-se de passagem - na mesma intensidade, com cada vez mais assertividade e intimidade, nos amando como da primeira vez. Tomando o mesmo vinho barato há anos, eu a recebo com a mesma vontade desde a primeira e ela me gera mais vontade a cada vez que eu encosto minhas digitais nela, ela fica mais saborosa a cada vez que eu espalho saliva por ela.
Mas a gente também briga, discute, se odeia com toda essa intimidade, na mesma medida.
É foda.
Eu não queria sentir nada disso, porque me incomoda e eu não sei lidar. E também não quero lidar com isso.
Sinto que não importa o que façamos, nossas linhas sempre estarão emaranhadas de alguma forma. Sempre presas. Isso sempre vai dar um jeito de fazer a gente estar frente a frente, nada corta nosso laço, nem os anos, nem novos relacionamentos, nada. Nem mesmo a minha vontade de nunca mais vê-la novamente. Nem mesmo quando eu volto pra cama dela jurando que dessa vez é mesmo a última. Tudo me leva a acreditar que sempre viveremos uma na história da outra.
Eu não sei explicar a gente, é sério... não dá.
Ela diz que me ama todas as vezes em que me encontra. Mas eu acho que ela só ama porque eu ainda estou aqui, acessível, só me ama porque ela sabe que basta ela sorrir pra mim pra eu ficar perdida, pra eu esquecer de todo o resto do mundo. Ela sabe que me tem. Ela sabe que exerce sobre mim um tremendo poder de atração, me arrebata mesmo.
E eu só quero me livrar dessa teia. Torço para que um dia ela não me tenha mais acessível, não me veja mais dançando na sala dela, fazendo ela rir. Torço para que um dia eu simplesmente esqueça que ela já me fez feliz. E aí... Nesse dia, quando ele chegar e SE ele chegar, assim como eu, ela entenderá Bukowski.
untold sessions #3 - explico p#rra nenhuma, só sei te deixar confusa!
"amor
é para os que
aguentam a sobrecarga psíquica."
Era só isso...
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