terça-feira, 16 de abril de 2024

falo do que sinto pra não me perder no que eu sou

Tem um pouco dela no meu ombro e pescoço, me oferecendo memórias intensas de seu toque minucioso. Um espaço meu reservado pra ela, que tateou meu corpo com tanto gosto e em algum momento isso me fez tão , mas tão feliz. Tem um pouco dela na ponta da minha língua, nas angústias das minhas escritas e eu posso sentir, ainda, seus cabelos enrolados nos meus dedos. Seus problemas embolados, perdidos e deixados no meu cobertor.
Há um tanto dela em mim. Acho.
Mas seguimos assim.
Ela pro lado de lá...
...e eu pro lado de cá.

Ela não tem mais morada fixa no meu peito, não faz do meu colo seu leito e eu já não tenho sua voz preenchendo meu ambiente. Da última vez que estive na casa dela, ela me disse que lavaria os lençóis assim que eu saísse, para que meu cheiro não fixasse ali, assim ela me esquecesse mais rápido.
Eu já não tenho mais nada.
Ainda me lembro detalhadamente as horas que nós jogamos aos pés do sentimento nos sábados quentes, dos passeios matinais no parque da Avenida Kennedy, dos baseados escondidos, dos poemas proibidos, do amor vivido, das noites incríveis com horas a fio pra gente se completar. Eu ainda guardo com afeto tudo que a envolve, ainda sinto falta de todo o tato, calma, paz e fluidez que ela dava pra tudo. Ainda me perco em memórias, ela ainda me causa saudades dessa história e até mesmo uma certa curiosidade, agora.
Onde é que está e o que é virou o sentimento da gente? 
O que é que fizemos com tudo aquilo que nós sentimos? 
Eu não a encontro mais nos lugares onde eu vou, aliás... eu passo longe de qualquer possibilidade de um encontro por aí, de vê-la sorrir ao lado de uma mulher sem graça ou de um cara qualquer. E também porque eu sei que ela já não me espera em lugar nenhum.
Eu já não a encontro em lugar nenhum. Eu não a encontro nas minhas memórias mais recentes, mas ainda assim insisto em reviver velhas memórias que por mais mortas que estejam ainda continuam quentes.
E eu não a encontro mais nos meus versos... e é isso que é foda.


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