sexta-feira, 17 de maio de 2024

meu afeto me esmagou

Às vezes eu preciso lembrar de pensar em mim, não nela, pra não me esquecer de quem eu sou.
Pra não me deixar levar por poucos momentos de felicidade que explodem o peito numa tentativa de deixar tudo do meu jeito.
Pra não me afogar no propósito.
Pra não me perder nisso tudo que a gente criou, no amor que a gente inventou... Sei lá, as vezes eu fico cega e inebriada, sustentando o que sinto em cima de uma noite de sexo... É foda pra mim, eu não sei mais separar as coisas quando se trata dela. Porque quando ela me abre as pernas eu automaticamente abro meu coração pra ela. Eu fico fedendo a paixão. Aí eu me perco entre suas cores e riscos, me afundo no veneno que escorre dos seus lábios porque perdida, além de apaixonada eu sou presa fácil pras suas vontades. Eu só vou seguindo a maré, sou peixe fraco, peixe francês burro, que vive no fundo dos próprios sentimentos. À margem dos poucos momentos de felicidade que ela me proporciona.
O amor, então, toma contornos e formas que eu não consigo me acostumar. Gera coisas que eu não sei lidar. Manhãs que o amor foge antes de amanhecer e eu acabo querendo desconhecer aquela mulher. Torcendo para que eu a esqueça, que ela não teça sua teia e me envolva mais. Talvez eu fique procurando amor onde não há, sei lá... Talvez eu consiga amar qualquer fragmento dessa mulher.
Mas é isso, estar no nono andar, dividindo uma manhã qualquer com ela, mesmo que em paz, me gera um estado de alerta. Um medo que parte da premissa de que ela ainda me dá uma sensação eterna de que tudo que nos envolve é sempre um sincero looping de viver pra administrar marcas e emoções, assim... Continuadamente. Me servindo uma paixão quente, brigas quentes, tudo quente... quando eu só queria amor. Mas eu jamais falarei sobre isso.
Não importa mais o que ela faça eu não sei esquecer o quanto as palavras dela são farpas, os olhares são facas e o diálogo não nos faz selar nenhum acordo de paz.
Mas agora também... Tanto faz. Não seria sequer coerente da minha parte manter isso entre a gente, andando pra frente sem saber onde vamos chegar.
Mas às vezes eu, peixe, nado contra a corrente também. Às vezes eu não sei o que passa na minha mente, mas eu me perco e não me encontro em mim, nem nela, nem aqui... Estou presa nos momentos em que eu pudemos quase tocar e vivenciar a eternidade vivendo ao nosso lado... mas a realidade virou um relacionamento conturbado. Eu sei que quem olha demais pro passado acaba ficando preso nele, acorrentado.
Mas às vezes eu reviro minha mente em busca de qualquer detalhe que a inocente. Sou vítima e defensora.
Às vezes mais vítima.
Às vezes mais defensora.
E sempre contraditória.
Ela diz que eu não faço nada pra melhorar a situação entre nós... Como não? Tudo acaba sempre sendo como deve. Ela esquece que a fuga, por si só, já é ação.


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