Abri a varanda da sala e o silêncio que faz no nono andar me fez companhia por alguns instantes. O único barulho que eu tinha dali era o vento correndo e tocando tudo que lhe era possível de barulhento dentro desse apartamento. E o som da minha própria respiração. Ela me observava enquanto eu procurava a seda na minha bolsinha. Eu sempre perco alguma coisa e ela acha graça nisso... E eu só sei que gosto do sorriso e de saber porque ela tá rindo.
Mas além da gritaria silenciosa do amor sendo vivido ali, tudo silêncio, nem parece a cidade que no ápice do verão tem sei lá, um milhão de pessoas por metro quadrado. Tudo que eu tinha ali era o silêncio e algumas gramas de mato. E ela, logo ali... deliciosamente no alcance do meu tato, tornando tudo de mais gostoso da vida em possibilidade. Há poucos metros de mim, contemplando um momento calmo ao meu lado. Prestes a grudar um pouco do cheiro dela em mim, do meu cheiro de maconha nela. E eu quis tanto estar aqui pra isso, tanto, tanto...
Não tinha mais nenhuma droga que pudesse fazê-la distorcer a realidade daqui algumas horas, nem garrafas cujo alto teor alcoólico me fizessem ou cair dentro da calcinha dela ou fugir correndo desse apartamento, como que por acidente mesmo, tão rápido quanto mágica. Nada. Não que eu não queira ambos e sempre, e o álcool seja somente um grande encorajador pras minhas ideias ruins.
Mas enfim.
Enquanto enrolava meu baseado, ela me observava imersa na quietude de seu universo, sentada na sala. Me olhava, não dizia quase nenhuma palavra... Só me disse que conforme os anos passam eu tô mais velha, mais careta e mais chata. Mais nada. E eu concordei. Ela não estava errada. A gente se diverte um tanto juntas no secreto do nosso envolvimento.
Gosto dos diálogos soltos com ela, sem obrigação de agregar nada, gosto das palavras sem compromisso, dos olhares sem direção mas que ainda assim dizem muito sobre tudo que sentimos, porque sentimos muito, porque sentimos de tudo mesmo... quando se trata de nós.
Mas eu estou aqui agora. À vontade no mesmo apartamento branco que me repele, com a mesma mulher de sempre. A diferença é que hoje, agora, eu estou totalmente abrigada aqui, em paz, calma, sem vontade de fugir, é como se nenhuma das nossas rusgas existissem ou tivesse existido. O jazz embalou nossa noite, nosso sexo, nossos baseados e as conversas pré e pós.
É sobre isso, sei que soa monotemático, mas o que seria inovador nisso?
Eu ainda sou a mesma mulher apaixonada de antes, ela ainda me rouba o ar, o eixo, beijos e sentimentos.
Entende?
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