Toda manhã que eu acordo ao lado dela sempre acontece o mesmo, eu sei. Mas eu fico pra ver o que acontece na esperança de um dia ser diferente. De tudo voltar a ser como era antes entre a gente.
Pela manhã, acho que o encantamento acaba. Não sei, só sei que quando os raios de Sol invadem o apartamento, ela lembra de quem eu sou, de quem fomos, de toda a história... aí o gelo descongela e volta a ser um rio de mágoas, e eu com meu barco furado navegando entre frases com ataques, sofrendo com olhares farpas.
Às vezes eu nem me defendo mais...
Por que eu sou assim, aliás?
O dia seguinte é sempre nublado. As nuvens de situação mal resolvidas chovem paranóias, inundam o apartamento inteiro com uma infinita sensação de mal estar, e continua chovendo até tudo que eu não digo me afogar. E eu juro que não há nenhum diálogo - por mais claro que seja - que aja como um guarda-chuva pra me proteger das angústias. Tem um ditado que diz que quem está na chuva é pra se molhar, eu nunca entendi claramente qualquer que fosse o ditado, mas eu quero dizer que tudo isso tá ficando chato, às vezes eu me sinto usada, na chuva, fodida e molhada. Me sinto oferecendo meu melhor pra alguém que não me oferece nada, além de companhia pra um baseado, uma dose de whisky ou vinho e uma foda bem dada. E tudo bem! Eu não estou me incomodando com isso também... Mas é que eu preciso das coisas claras.
Mais nada.
Eu não sei dizer se é desilusão, frustração ou só um desapontamento vital... Mas eu sei que tudo sempre vai ser assim... Igual. Quando amanhece, ela me repele, diz que eu não presto e sou filha da puta. O azar dela é que eu sou estourada, repito palavras, acuso também. Rapidamente me destempera. Ela grita, aí vamos além. Me desestabiliza emocionalmente, mas eu sou ótima em fingir que não me atingiu e que eu tô bem. Mágoas são grãos de areia, mas se eu parar pra ver tem mais areia aqui do que na praia logo ali.
Ela grita, eu digo que amo. Sempre. Ela que diz que não.
Essa maldita não tem coração.
Daí eu vou embora.
Alguma dias depois ela me liga, com aquela voz dela... E tanto faz, uma mágoa a menos, uma mágoa a mais... o ciclo segue intacto, intocável, blindado pelas minhas projeções e pelas expectativas dela.
E eu volto, subo até o nono andar com a mesma cara deslavada... aí eu percebo que eu sempre tô pronta pra outra e esquecendo a última.
Igual hoje.
Igual semana passada.
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