Hoje ancorei no cais frio que é o nono andar.
Foi como receber um abraço gelado na minha paz, ainda assim prontíssima pra sobreviver à algumas horas vivendo sob as vontades tirânicas dela em troca de olhar pra direção do sotavento e saber que eu tenho os olhos dela ali, pra me guiar no meio do iceberg branco e frio... só me resta fechar os olhos e confiar. Eu sempre me preparo pro impacto e aí... Eu sempre caio no canto da sereia. Às vezes ela sequer precisa cantar, só existir, só estar ali no mesmo apartamento branquíssimo de sempre.
Enfim.
A sensação outonal é sempre a mesma, uma confusão sem tamanho. Impossível, improvável, misterioso, sem sol, sem sal, uma crise fodida de beck, sem jet, sem foda, sem ela, sem nada. Só uma falta de amor próprio sem tamanho e uma vontade tremenda de fazer meus olhos brilharem tanto quanto nas viagem anteriores, de fazer o amor ter sentido de novo, uma sensação de que ainda posso fazer minhas mãos suarem quando encostar a pele quente dela. E eu sei que posso, que nós podemos. Mas isso virou uma disputa infindável de quem magoa mais, quem esquece primeiro, quem fica mais tempo longe, uma interminável briga de ego. E aí... os encontros que antes eram tão divertidos, já não são mais tão divertidos e as brigas de tão repetidas já me causam tédio. Eu penso que ela nunca me amou, que não me quer agora também, eu gostaria que o amor dela não fosse explícito só quando eu estou completamente nua esfregando minha buceta em sem rosto ou quando eu tô sentindo o gosto do que é ter certeza absoluta de que ninguém trepa com ela igual a mim, de que ninguém bota nela assim. Só que eu cansei. Eu ia adorar a possibilidade de ser mais que os tapas na cara que eu dou nela, mais que minhas entradas firmes e incansáveis.
É incrível como ela me percebe e me esquece na mesma proporção. Daí eu me enfureço, endureço meu coração e giro o globo, eu corro, transo com outra me distrair. Fujo à nado se preciso for. Viro pirata, olhando nos olhos dela digo que ela não me gera interesse algum e que eu só busco por buceta, drogas e la plata. Mesmo que não seja verdade, só falo porque eu sei que isso atinge seu ego e sua vaidade.
Parece que ela se disfarça com um sorriso bonito pra maquiar a vontade conflituosa que é inerente a existência dela. Mas aí... Ela sorri, acende o baseado, tira a camiseta... Fica andando pela casa só de calcinha, me serve uma dose de whisky, como se fosse mesmo minha. Faz a gente ter sentido de novo, porque ela faz isso? Não sei, mas quando faz eu nem me lembro das intenções de conflito. Inclusive, quando ela coloca Smiths no toca discos, eu esqueço até mesmo dos riscos que corro à toa. Aí nós nos beijamos e dançamos pelo convés, ela acha graça quando eu danço ou ando na ponta dos pés, então o sorriso dela me derrete, quebra o gelo, atravessamos o iceberg que é minha vontade de estar longe... ela faz tudo voltar a ser incrível, me faz acreditar até mesmo que esse sentimento é possível, é sorte, não revés.
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