sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

retribuindo ausências

As manhãs seguintes sempre são carregadas de cobranças e questionamentos, parece sonho impossível ter um momento bom e incrível ao lado dela sem no dia seguinte ter a nuvem cinza de clima tenso pairando alto, dando voltas nesse apartamento quase quebrando as janelas para entrar. Acendi um baseado, mas adoraria poder queimar as perguntas que ela me faz esperando que eu infle o ego dela novamente. Ela quer ouvir que eu não sou capaz de amar outra mulher mais do que eu a amo. E a minha visão de tudo que ela me cobra é que eu não sei mensurar amor, não sei medir sentimento, eu só sei que gosto ou não gosto... não sei entender o quanto de espaço que isso ocupa na minha cabeça, coração, esse blá blá blá todo, mas ela não entende. Eu não entendo emoções, mas nisso ela também não me entende. As pessoas não são descartáveis pra mim, mas eu queria ser capaz de voltar dez anos pra trás e descartar tudo isso, já desejei muito nunca ter vivido uma história de amor com ela, intensa. Uma história de ódio, intenso. Uma história de saudades, intensas. Uma história, intensa. Ela quer ouvir que eu não transo com quem ela conhece, mas não é da conta dela, então foda-se porque eu não sou obrigada a falar sobre isso. Ela quer ouvir que eu preciso dela, mas eu não acho que preciso. Caras cobranças sem valor nenhum, não agrega porra nenhuma às manhãs, por isso aprendi à não gostar de quando amanhece. Eu sempre pago um preço alto por escolher vir, sempre debitado automaticamente da minha conta emocional. E ainda assim sinto que não há equilíbrio. Não há paz enquanto ela grita. Sigo calma, meu silêncio é o que a ensurdece, mas quando ela fica em silêncio, me mata. O silêncio dela é fatal, pra mim.. ainda assim.
Não há equilíbrio algum.
Eu sou uma mulher bastante diferente hoje, mas ainda não consigo permitir que ela me conheça de novo, por pura falta de disposição pra debater relações que hoje em dia só existem na cabeça dela, sempre mais do mesmo, às vezes eu me mantenho distante, prefiro deixar ela ocupar o posto das memórias significativas e felizes. Ela fica um pouquinho menos bonita quando rouba minha brisa apontando meus erros, citando defeitos que ela já sabia que eu tinha. E não cabe a ela falar sobre isso, eu só queria estar em paz, como antes, como ontem antes de eu estar debaixo dos olhares dela que me metralham cobranças e me enchem de troco, à troco de nada. Ela só quer que eu seja dela, mas eu não sei pertencer então me sinto amando da forma errada. Sou facilmente alvejada pela raiva que me dá de tudo que ela fala e repete, afim de me tirar do estado de paz e me fazer pagar sozinha a conta do estresse, nem parece a mesma mulher que jura que me ama - na cama. Filha da puta do caralho. Sigo transando com quem eu quiser, ao som de Streets até que eu possa esquecê-la nua em cima de mim, nesse som.
Eu não me atraio pelo mundo em que ela vive, o fato de que eu sinto como se ela quisesse resolver tudo com sexo e dinheiro, me repele. Me sinto tentando temperar uma relação que sequer é concreta transando com ela mais gostoso do que nunca, mas se tirar o sexo acho que tudo fica sem gosto. Insosso. Porra de ciclo falido regado à drogas, sexo e atritos. Anos e anos perdendo dias com isso, com relações plásticas que sufocam. Ela não vai aprender à domesticar peixes franceses, mas quem sabe o peixe não aprende à quebrar aquários? À nadar de volta rio acima? À quebrar os ciclos? Enquanto não aprendo, continuo retribuindo tudo isso com longas ausências.
É só isso.


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