Parece que quanto mais eu fujo dessa mulher, mais eu me sujo com suas digitais pelo meu rosto, com sua saliva pelo meu corpo. Tudo.
Longe do nono andar, só por hoje. Mas ainda assim: eu, ela, whisky, baseado, luzes, corpos que se atraem, a mesma balela de sempre, nada muda. Essa mulher ainda vai me levar à loucura ou à monotonia literária, eu tenho certeza. É foda. Os mesmos olhos castanhos nocivos, no nono andar, aqui ou em qualquer lugar. Mas eu já estou tão envenenada por tudo isso que já não sei mais até onde é possível eu me embebedar mais com esse amor. E foda-se também.
Meus olhos atentos observavam ela dançando, entre beijos na minha boca e dedadas de MD, próxima de mim o suficiente pra eu encher essa cara linda que ela tem de beijo, pra eu sentir o cheiro do seu pescoço, o gosto da língua, tudo... O movimento lento me garantia uma visão que eu vou guardar pra sempre, junto com as outras dezenas de cenas dela que eu sempre acho vou guardar pra sempre. Ou até amanhã. Como é que pode essa mulher bagunçar tanto meu universo assim? Como? Com qual intuito? Eu queria tirar da memória dessa mulher todas as vagabundas e os caras otários que ela já teve, principalmente aquele cara sujo que eu não gosto e da ex que eu jurei que fosse durar. Eu consigo sentir tanto ciúmes mascarado de raiva quando estou longe, consigo jurar que nunca mais ela terá nossas fodas no sofá, nossos baseados na sacada, nada, nunca mais... mas quando ela está no alcance dos meus dedos, eu só sei continuar tecendo essa porra de obsessão.
O amor que não dá certo sempre encontra um jeitinho de se manter por perto, será? Eu não sei. Mas lá estávamos nós, contrariando nossas próprias promessas mas indo sempre de acordo com nossas vontades, nós duas de novo, hoje, sempre, juntas como sempre estivemos. Meu olhar flechado de amor olhando pra ela igual, desde o primeiro dia quando eu era só uma menina de quinze e ela também, só uma menina. Mas nas últimas horas nos amando e rindo a todo instante como se isso fosse fazer toda tristeza se manter distante de nós. E talvez faça mesmo.
O problema pra mim é que ela é igual cocaína, brisa ótima e pós destrutivo. Ela me dá horas de sorrisos, orgasmos e mil motivos pra seguir aqui, mas sempre pela manhã, quando ela esquece o amor na cama e me olha como se nunca tivesse me visto nua, eu vejo a minha própria autoanulação ao esticar minhas mãos pra receber grãos de amor e atenção, acho que enquanto o cheiro de seus fluidos corporais forem meu melhor perfume, eu nunca vou aprender a falar não.
O que é que há? Não é como se eu fosse a mulher que mais presta no mundo, como se eu não fosse também filha da puta e trepasse com outras, como se eu não vivesse enfiada em outras coxas e camas, como se eu nunca tivesse escutado outras mulheres falando que me ama. Mas é ela. E essa mulher, eu repito, ainda me dói de um jeito absurdo. Ainda me faz desejar que o amor fosse algo diferente do que ela me apresenta hoje em dia.
Eu queria que ela fosse, que ela coubesse e principalmente que ela quisesse tudo que me envolve. Eu quis tanto, tanto, tanto tudo com ela. Eu queria que ela me amasse além da carne e da cama, eu queria que ela me amasse além do pele na pele, me amasse até os ossos, eu queria mais do que o suor transpirando pelos poros e ela me jurando que essa foda foi melhor que a última, me incentivando a botar com mais precisão da próxima vez mesmo que seja inegável que cada vez que a gente trepa fica melhor e mais gostoso, mais intenso, enfim... Eu queria mais do que ela trepando comigo lembrando do quanto eu gosto de comer ela em lugares específicos. Eu queria que ela me amasse não somente quando a buceta dela está nas minhas papilas gustativas, queria que ela me tomasse o coração mais do que toma meu corpo, que ela tirasse nosso sentimento do superficial e supérfluo.
Mas cada vez que estou imersa em sua ausência penso que ela só gosta dela mesma. Deve gozar olhando a própria foto, só pra concretizar sua própria devoção. Acho que ela só me serve, agora, como inspiração pra textos decadentes e poesias sobre fodas e desamor. .
E caralho, pra ser honesta, depois de tanto tempo, não importa o quanto ela diga que me ama ou não ama, a gente trepa gostoso, claro que sim, eu jamais negaria, mas acho que se ela gostasse de mim além da foda, eu com certeza saberia. E eu escrevo pra me ausentar da culpa.
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