terça-feira, 15 de agosto de 2023

redenção

Ela não me pergunta sobre minhas vontades, sobre meus sonhos, não conversa comigo sobre minhas ambições, sobre aflições e o assunto sempre acaba direcionando pra algum tipo de cobrança, parece uma agiota, só cobra e nunca tem variações. Por isso que eu não falo nada. Nunca vou em lugares que não sou convidada, nunca falo se não sou perguntada, nunca retribuo amor se não me sinto amada. A ausência de palavras enche o quarto com um vazio desnecessário, pesado, desesperado. Ela gosta mesmo é de me deixar triste. Não é possível que essa mulher só saiba gemer, pedir pr'eu socar mais forte, cheirar pó e cavar brigas quando a festa acaba... ela não era assim, quando foi que viramos esse bololo todo? Ela não tem mais nada para mim. E eu continuo aqui. Esperando que tenha... ela continua lá, esperando que eu mude também. E assim seguimos numa dança entrosada de buscas e desejos silenciosos. E foda-se.
O que mais nos afasta pelas manhãs é a falta de diálogo construtivo. É complicado. Às vezes considero que a gente simplesmente não consegue mais se entender, se encaixar e isso é um dano irreparável, algo que quebrou... O sexo não cura as feridas emocionais, mas acho que as maquia muito bem. As feridas então camufladas, fazem a saudade machucar um pouco menos e parecer inofensiva. Sexo é nosso bandaid emocional para um corte profundo demais, a gente vai tentando recuperar o estrago com medidas paliativas. Transando e seguinte avante. Ela não tem interesse em mim, eu acho, ela tem interesse em não me permitir ser interessada em outros olhares, toques e sabores. Sempre tentando me impedir de viver outros amores. Em não devorar outras mulheres, em não ser louca demais por outras musas. Em não inspirar novas paixões, ela quer que eu a queira. E eu, daqui, quero querê-la... Mas a quero por inteira, não trincada de dúvidas malucas que ela magicamente tira da cartola quando o Sol nasce sabe-se lá porquê. Insegurança, talvez. Falta de diálogo ou só a brisa do ácido e dos etc que já passou, ela já gozou e ela me reconhece como a mulher que nunca pertencerá a ela? Eu não sei.
Por que ela não me pergunta se eu dei risada?
Se eu fiquei incomodada com algo?
Se eu bebi vinho sentada no chão da sala, descalça, com a companhia de outro alguém?
Se eu reproduzi, mesmo que minimamente, os encontros que nós tivemos, se eu amei outra mulher só pra me divertir?
Se eu fiquei animada com outra pessoa como fico com ela porque honestamente, isso pra mim seria a maior tristeza... Saber que ela riu com outro alguém muito mais do que ri comigo.
Ela me surpreende toda manhã perguntando se eu continuo transando com aquela amiga dela, com pessoas que ela conhece, se eu gozei com alguém da convivência dela porque ela acha que eu procuro isso por maldade da minha parte, para magoar, ela acha que essas coisas aconteceram de forma proposital. Eu acho que não sabe minha cor favorita, minha artista favorita embora eu tenha três tatuagens sobre ela, aposto que ela não saberia meu aniversário se as redes sociais não lembrassem ela, mas ela sabe com todo mundo que eu transo. É foda. E pra ser filha da puta, mal sabe ela o que eu fiz longe dos poderes exclusivistas dela. Experimentando o amor, o sexo e outras drogas  debaixo do mesmíssimo sol típico veranil, nessa mesma cidade de estética setentista e oitentista, antiga. Poucos momentos onde eu deixei de ser fantoche do tesão e tédio dela. Dividindo com outras mulheres novas perspectivas.
Ela ignora completamente o fato de que eu sempre fui presente enquanto ela me permitiu, de que eu sempre dei o meu melhor e foda-se, eu não quero reconhecimento de ninguém, tem coisas que eu faço porque eu sou egoísta de fato. Mas ela não entenderia. Por isso eu me mantenho longe, distante, descrente que isso algum dia voltará a ser tão bom e intenso como era antes.
Mas eu sigo tentando, positividade afinal! 
Ela é tudo que eu sempre quis... Mas o foda que eu nem procuro mais envolvimento, mais proximidade. Porque tudo que eu tenho que insistir muito logo me cansa, eu sei que com ela eu posso tudo, menos fazê-la - e principalmente ser - feliz. E agora nem sei se é isso que eu quero, também.
Tem essa.


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