A mão dela tocou a minha assim que entramos no elevador, descendo pra uma rápida caminhada até a padaria quase no final da rua, dessa vez só pra variar um pouco o ambiente. A manhã parecia segura pra mim, pelo menos enquanto fazíamos aquele trajeto juntas, conversando animadamente sobre assuntos banais, discutindo a vida como pessoas normais, manhã sem sol, mas bem boa pra navegar, pra sorrir, pra amar. Pra se estar ali. Foi paz.
Eu presto atenção em uma coisa de cada vez, por etapas e desde que me conheço por gente eu funciono assim... então claro que me roubou a atenção a ponta dos dedos buscando o toque em mim com tranquilidade, senti um frio na barriga inevitável, ela entrelaçou os dedos nos meus e nem assim a segurança veio. Sinto que é só posse da parte dela e mesmo assim eu cedo.
Mas foi bom. Não estou dizendo o contrário. Só foi de um leve incômodo. Essa mulher perturba minha cabeça, rouba minha paz. Adolescentemente bom. Irritantemente bom. Bom como é em todas as vezes onde ela se encontra com a cabeça em paz comigo. E vice versa.
Me gerou calor e euforia como em todas as vezes que ela colocou a mão em mim todos esses anos, afinal... ela é boa em ser minha, ela é boa em me oferecer qualquer tipo de afeto que eu precise no momento.
Foi um choque elétrico, quase um raio mesmo, ter a mão dela segurando a minha de novo foi quase como uma alta voltagem correndo pelo meu corpo, eu não consegui sequer ouvir o que ela disse exatamente, mas sei reclamou da temperatura que caiu e ela odeia o frio.
Segui estática sem saber muito o que fazer, eu não sei receber carinho dela sem achar que ela só quer algo em troca. Ela me chama de perturbada e eu só penso: o que será dessa vez? Ela quer amor, sexo ou droga? Ela é e sempre foi isso, mesmo sabendo que fui eu quem parti no auge dessa história, que eu fechei a porta, eu virei as costas. Eu não quero mais martelar essa saudade dentro da minha cabeça, nada faz com que eu esqueça... essa é a resposta de toda vez que eu escrevo me perguntando porque venho e sigo respeitando e abraçando a mesma mulher que eu era antes, tão menina, que jurou que a amava. Eu não quero mais ser a mulher que ela acha que eu sou, a questão é que ela sempre fica achando que não sobrou espaço algum pra ela na minha vida, mas as nossas existências se cruzam e se misturam de diversas forma em tantas e tantas ocasiões que é impossível ela não refutar esse pensamento.
Caminhamos até a padaria, de mãos dadas ainda, por um momento, pude sentir o tempo nos atravessando lentamente, e a gente ali juntas, atravessando a eternidade de mãos dadas, como tínhamos nos prometido há anos atrás e se for pra parar pra ver e analisar a situação a eternidade está mesmo se consumindo bem em frente à nós. Não da forma como gostaríamos, mas está ali. Pensei que talvez quando a gente se prometeu amor pra toda a vida, sequer tínhamos certeza do que nós poderíamos oferecer... e além do mais, eu disse amor, não paz.
Penso que nem sei se é isso que eu quero mais.
O café, assim que chegamos na padaria, foi sem açúcar. Queria algo bem amargo que despertasse, que me tirasse do estado de transe... é sempre importante o cuidado, a precaução, os dois pés no chão, não perder a linha de consciência e do perigo.
Não gosto de todas as consequências, mas eu nunca tive noção nenhuma do perigo.
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