Ela tem cara e formato de pecado, de erro, daqueles erros gostosos que enchem a boca de água, que enchem os olhos, a pele dela, tão colorida como a minha, é convidativa, o toque dela é flamejante e me faz escorrer fogo, a presença dela deixa perceber em mim toda a pujança da paixão que arde sem pausa alguma, que domina meu corpo, que não cabe no meu coração, que esmaga qualquer discernimento que eu tenho sobre isso tudo ser tão delicioso quanto é errado.
Mas o que é errado aqui, afinal?
O que é o errado?
Porque errado se essa mulher me ganha deliciosamente e sem nenhuma piedade sequer?
Eu caio nesse papo dela só para que ela me apresente uma paixão sem calma, uma transa nada banal, sem cartilha. Uma paixão que extravasa e que teima em se fantasiar de amor, em se trajar de vários afetos, em mascarar o desejo. Ela tem cara dessas mulheres que a gente nunca esquece, sabe? Ela é ela. Única como toda a singularidade, peculiaridade que a veste. Tão maravilhosa, dona de uma beleza insigne, ela parece que me convida a permanecer em sua vida, que me pede para desejar sempre por um momento com aquela mulher... mas desejar demais, saca? Numa intensidade absurda. Como um vício. Eu preciso realmente tocar o corpo dela, ter a voz ecoando na minha casa, os gemidos abafados no meu quarto nas madrugadas respeitosas, quero as mensagens dela pipocando na minha tela, ela fumando cigarros apoiada na minha janela, enquanto eu só observo, ou tô logo atrás dela metendo forte.
Ela fala que eu bagunço os seus pensamentos e que só nua, ao meu lado, fica à vontade e desce do salto. Talvez eu adore demais essas mulheres bravinhas, estressadinhas e posturadas, igual à mim, talvez essa seja minha especialidade.
"Prazer, eu vim morar na sua cabeça!" - Gosto de falar besteira, ela então ri, mas eu levo isso a sério... eu não quero mesmo que ela me esqueça. Ela fala que depois da nossa primeira transa eu aluguei mesmo um apê na sua mente. E eu orgulhosamente moro lá, virando à esquerda, no condomínio das memórias quentes.
Eu fico nervosa já quando ela me manda mensagem perguntando se pode vir pra cá no final do dia. É óbvio que sim, como eu recuso isso? Minhas dúvidas sequer cabem na agenda dela.
Ela é tão pra frente, eu inocentemente não sei porque ela chega sem calcinha e sorrindo, eu encho duas taças de vinho tinto e pá. Pra esquentar. Uma ou duas taças a mais pra ela relaxar. Bolo um fininho do brabo pra gente fumar, a gente transa, beija, fala, ri e contamos algo sem sentido só porque lembramos no momento... A gente ri um pouco mais, bolo outro, a gente fuma e nem chegamos na metade ela me taca beijo lento, e aí a gente sabe o que acontece. A gente paralisa o momento... nós duas continuamos ali, é só os ponteiros do relógio que correm.
Lá fora a chuva cai e aqui dentro a gente transa com a mesma disposição que estávamos há horas atrás. A atração mútua é deliciosa e quando ela chega no máximo do prazer, no orgasmo, quando ela goza comigo, no ápice da nossa intimidade e consentimento... Eu acho que é muita loucura e delícia nós duas olhando daqui. Coisa que só a gente sabe e sente.
Eu observo tudo em câmera lenta, consigo me lembrar de cada sensação que a gente sente com o toque, com o tato, com o olfato, com meus lábios tocando ela de maneira intermitente.
Quando essa gata fica nua posso jurar que toca bossa nova dentro da minha mente.
0 comentários:
Postar um comentário