quinta-feira, 15 de setembro de 2022

fiz parecer brincadeira, naturalmente é o que eu faço

Acendi meu último baseadinho enquanto assistia a chuva caindo na cidade ensolarada, transformando-a numa cidade cinza igual onde eu moro, tempo triste, parece que suga a energia e a felicidade da gente, sei lá, tudo revolto. Não tem felicidade alguma nos domingos, no dia dezenove desse mês e nem nos dias de chuva. Só um baseado e áudios dela cantando e cantado mal, pra trazer cor de volta, pra me fazer rir. E ela? Jamais seria feliz sem Sol, eu acho.
Nos encontramos em uma praça próxima à casa dela. Não demorou muito até eu avistar o carro dela e a ansiedade por vê-la novamente tomar conta de mim. Eu sempre volto pronta pra um diálogo sobre tudo ou dividir algum tempo de silêncio ao lado dela, o que ela quiser. Tá paz. Mas quero confessar que corri até ela com os dedos cruzados na torcida para que ela já estivesse com a chave virada em relação a mim e a nós, e tudo mais. Porque de mim ela sabe que sempre pode esperar um abraço apertado - independente da situação - pelo menos isso ela sempre teve, tendo em vista que eu sempre voltei após cada desentendimento entre nós. Lá estava eu novamente, pronta pro próximo impacto, com todos os problemas superados e perdoados, esquecidos mesmo. Acho que obtive a paz de não remoer as coisas ruins, não consigo mais me manter ocupando espaço de pensamento revivendo ressentimentos, nem as mágoas, nem porra nenhuma porque o ódio é uma mala pesada demais e o passar dos anos foi me deixando cada vez mais preguiçosa de carregar qualquer pessoa ou sentimento que não agrega, que pesa. Já não gasto energia com isso. Vou denominar meu estado atual de semi-paz porque eu ainda me acho perturbada e perturbável pra caralho, o próximo passo é ser um pouco mais paciente, talvez menos explosiva ao ponto de achar que muita coisa seria melhor resolvida com um tiro no pé ou na mão.
Enfim.
Eu estava quase chegando até ela quando apaguei o baseado, a ansiedade bateu mais forte. Assim que eu me aproximei um pouco mais, ela me encarou firme, derreti, quis correr. Pra ela e ao mesmo tempo dela. Quis ir embora e ao mesmo tempo levá-la comigo, inferno de mulher. Deu mesmo vontade de fugir como nos velhos tempos... mas não sou eu que falo que cheguei até essa cidade com meus próprios pés? O perdão é uma escolha, mas o esquecer é uma dádiva, e isso está em minhas mãos.
- Ah, Jéssica... - Balançou a cabeça. Me vê e ri, sorri, sei lá. Toda vez. Eu gosto quando ela fala o meu nome. Pude sentir um pedido de desculpas não verbalizado, não necessário, não vim até aqui procurando isso. Ela apoiou a cabeça ao banco do carro, o olho no olho. - entra, tá frio.
Assim que entrei no carro em pleno horário de sessão da tarde, numa tarde bastante cinza e chuvosa foi como se ela pudesse mesmo mudar instantemente o clima, botar um sol brilhando na máxima lá fora. Eu só consigo desgostar dela quando eu tô longe, igual droga. Com ela próxima, nada mais importa... toda vez que eu a beijo, é como se ela fosse um super ímã, meu corpo procura contato e não cansa até encontrar, ela não recusa e é sempre bom. Quando eu a toco eu sempre imagino que seria delicioso ter mais mãos para que eu possa sentir um pouco mais dela. Quando ela se deita sobre mim e o perfume da loção pós banho gruda na minha camiseta é tipo um pedaço de amor que eu carrego comigo, tipo souvenir, mas o que a gente se presenteia mesmo é na ajuda da construção e manutenção das deliciosas memórias celulares das trepadas que a gente acerta e encaixa, dando forma, corpo e gosto à tudo que a gente imagina e quer uma com a outra, sexualmente falando. Ela não me deixa passar vontade, eu também não arrego e assim seguimos.
Enfim.
Acho que hoje tinha mesmo um Sol brilhando dentro do carro, tinha amor, maconha, beijo na boca e reconciliação. Je ne regrette rien.
Eu quero sentir esse hype. Eu quero aproveitar essa brisa, mas quero agora. Não porque temos pouco tempo, temos todo o tempo do mundo... mas sim porque eu sei que tudo muda muito rápido igual maré, então é por isso que quando eu a amo, eu a amo com pressa, quando eu a amo quero ela centímetro por centímetro. Quero devorar ela até eu não aguentar mais, até minha mão cair, foda-se, uma só nunca é o suficiente. Eu quero olhar pra ela até decorar ela inteira, até eu conseguir reproduzir a risada dela dentro da minha cabeça, se eu quiser. Recentemente troquei de óculos e aparentemente esses também não podem me ajudar... Eu continuo cega, perdida no mundo e morrendo de amor.


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