Acordei assustada após um curto período de sono, o cheiro dos lençóis dela, o cheiro do amaciante de roupas dela, os aviões caindo dentro do meu sonho e minha temperatura corporal aumentando no exato momento onde eles tocam o solo, e eu acordo. Dia ruim. Um limbo que vai demorar pra caralho pra passar. Tudo me soou triste. Acordei diferente do que eu esperava mesmo após uma noite incrível ao lado da mulher que eu quero. Puro revés. Um misto de sensações cruéis, esmagadoras e que me indicam que aqui, onde estou, não há saída, não há saída para mim. Agradeci a mim mesma por ter cedido e vindo até aqui. Acordado ao lado dela.
- É a primeira vez que te vejo dormir em muito tempo. - abri os olhos lentamente e a segui com o olhar pelo quarto, enquanto tateava meu peito em busca da minha bag.
Ela indicou com a cabeça onde estava, sorriu. Perguntou se eu queria comer algo, ou voltar a dormir. Eu só queria meu quarto, pra ser honesta. Respondi que não e ela sentou no pé da cama como se me encarasse, como se em qualquer instante ela fosse começar uma dessas crises chatas dela, discussões sem fundamento. Mas estranhamente não teve nada. Foi como se ela fosse capaz de me entender numa leitura rápida. Esperei um problema paupável e ele não veio, aparentemente o problema era só eu. Só em mim, só comigo. Esperei correr pelo corredor dos quartos até a porta de saída e mesmo meu peito explodindo vontade de fugir, eu me mantive deitada na cama dela. Engolindo todo o mal estar.
A chuva lá fora me deixava mais agoniada.
Meu coração, vazio, rebatia dentro do peito aceleradíssimo como se a qualquer momento fosse achar uma brecha, ou fazer a brecha e fugir... e a ansiedade... A ansiedade tinha um sabor bastante amargo. Doce foi apenas o olhar dela, acolhedor mesmo, o toque calmo em meus pés, que eu tirei rapidamente numa tentativa incessante de fuga, mas ela me seguiu pela cama e insistiu no toque. Eu sempre fico nessa palhaçada de não querer o toque dela mesmo após uma noite de sexo, basicamente isso é reflexo do puro arrependimento. Que se foda. Eu baixei a guarda, ela não falou nada. Não teve briga, não teve nada demais. Continuou tocando meu corpo com receio até deitar no meu peito, escutou meu coração acelerado por um bom tempo. Até eu dormir de novo.
Foi paz. Foi o mais próximo disso em muito, muito tempo. Teria feito merda se não houvesse ela me prendendo no colchão.
Hoje o rato queria, na verdade, estar morto... Mas foi salvo pela ratoeira. Eu juro, nem queria falar sobre isso.
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