Já beirava às duas horas da madrugada, eu já não tinha mais discernimento algum sobre o que era realidade e o que era brisa. Minha cabeça pesava. A realidade pesava, mesmo maquiada. Qualquer coisa era amplificada, tanto mal quanto bem. Introspectiva, maluca e morando dentro de mim, e longe de tudo. Eu só pensava em fugir. Como sempre. A sensação de não pertencimento é algo que eu venho trabalhando muito pra vencer, mas ainda é recorrente.
Paciência, só respirar mais fundo que passa.
Meu telefone tocou, a claridade da tela era horrível, absurda e estranha pra mim, e eu estranhei ainda mais ver o número dela estampado na tela.
O número.
O DDD.
O frio na barriga foi inevitável.
Nada me pareceu familiar na situação, pensei no quanto eu gosto do nome dela, dela em seu formato mais puro, pacífico, de quando ela me chama. De tudo que envolve ela. Ou quase tudo, né?
Em contrapeso eu pensei também no quanto me sinto cansada dessa situação, de como ceder pros encantos dessa mulher me tira a vontade de viver quando ela goza e logo após esquece que eu existo até uma de nós querer uma foda madrugadeira novamente. Não que seja obrigação dela respeitar e entender como eu me sinto, mas toda vez que eu venho, entro nesse apartamento e ela encosta a pele queimada dela na minha pele é como se eu tivesse que reiniciar todo processo de cura depois disso, filha da puta. Mesmo que nos momentos em que estou dentro dela... ah, honestamente nem precisa de tanto, só estar na presença dela já faz eu me sentir mais viva e feliz do que nunca. Mas o pós é dolorido aqui, pra mim, ela me causa uma ressaca fodida mesmo, pesada e foda de curar, e isso me cansa pra caralho também, a indecisão dela em sair ou permanecer na minha vida é cansativo também. Mesmo que eu não queira e até evite contato, saber que ela trepa, beija, se relaciona, fala com outras pessoas me faz querer me manter longe dela também, me faz ter vontade de sumir da vida dela. E é prazeroso estar longe, mesmo que longe eu me sinta mal e acumulando mágoas desnecessárias que só pesam quando minha cabeça tá cheia de droga. A indecisão em querer a presença dela ou não também me cansa. E pra ser honesta, a culpa é minha. Ela me torna permissiva, receptiva. Ela tem de mim o que quiser e quando ela quer, a verdade é essa e precisa muito ser dita, escrita, tanto faz e que se foda.
Eu também não entendo e muito menos respeito como ela se sente. E tanto faz também.
Mas vamos lá... Em duas horas eu estava ocupando o mesmo cômodo que ela, fedendo à droga química, pólvora e whisky. E mesmo preenchida excessivamente pela língua, dedos, gozos dela... Eu me senti vazia. Ela tocou levemente e carinhosamente meu rosto e me perguntou num tom de voz sério porque eu fico aérea às vezes e eu não soube o que responder. Eu estava mais em mim do que nunca porque essa filha da puta rouba minha brisa. O peso de encontrá-la só chegou mais cedo do que o previsto e ali, no momento, na situação eu não soube lidar e deixei transparecer. Pensei que sempre estive aqui, voando pra lá e pra cá, mas sempre aqui. Eu não respondi, sorri e a beijei como se fosse mesmo a última vez porque pra mim sempre é. E mesmo quando eu não quero estar na presença dela, eu venho, eu fico e aqui eu estou e juro, eu faço tudo ser possível quando se trata dela. Tudo. Eu mataria o presidente se ela me pedisse, sem pensar, eu só faria... Se isso a tornasse mais feliz. Mesmo que ela me tire o que eu tenho de mais precioso, a paz. Ela me perturba como nenhuma outra fez ou faz. Deve ser incrível pra ela me dominar assim, aposto. Deve fazer bem pro ego dela uma ligação e me fazer estar aqui, apesar de tudo. Mas por ela... Eu paro o mundo. Eu esqueço o mundo. Se ela tá do meu lado que se foda o mundo. Porque no momento do sangue quente eu fervo e ela nem sente. Diz que me quer com ela, mas não fria... Não assim. Tocou minhas tatuagens do braço com afeto e me questionou sobre coisas que não deveria e que eu não tô afim. Não entende porque eu não sou mais sorridente, diz que toda vez em que me encontra é como se eu fosse alguém diferente. Talvez eu seja. Talvez eu só tenha me tornado menos coração e mais eu, puro ódio e razão. Diz que preferia como eu era antes. Mas esse problema é dela, eu não vou pegar esse problema pra mim. E eu segui muda. Me diz que não me conhece mais... E repete. Acho que ela está em busca de alguma explicação. E isso me cansa. Burguesa otária do caralho. E toda vez é isso. Pra quê me procura então? Me enche de perguntas que eu fujo e dela eu já nem quero mais resposta alguma. Diz que se assusta como eu me tornei implacável e fria ao longo dos anos, mas isso a atrai. Eu sei que sim. Eu sei que atrai porque ela nunca transou comigo assim, antes, digo... com tanta vontade. Explode atração, tesão. Quando ela sabe que eu tô off e me tira do corre, ela me dá a buceta com tanta vontade que beira o desmedido. E às vezes eu acho que só quero isso, que ela só quer isso, só espero isso porque eu já cansei de esperar algo diferente. Não me dá amor, mas faz eu me sentir amada e desejada, mesmo que às vezes essa sensação passe logo após ela tirar os dedos molhados de dentro de mim. A frieza me faz transformar o amor em prazeres sexuais, em favores banais, em fodas casuais. Eu finjo não enxergar o amor que ela sente e é transparente nos olhares que ela me lança.
Mas eu, hoje, aqui e agora só consigo pensar que eu tô cansada de ser só diversão pra ela, e isso juro, isso não é nada demais... Talvez seja excesso de droga na cabeça, mas eu só precisava desabafar. Seguimos alinhadas no sexo... No beijo... No papo. Mas ainda, incompatíveis e um tanto quanto passionais.
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