domingo, 18 de julho de 2021

peixe francês e a superação das rupturas emocionais

E mais uma vez me encontro respirando o ar úmido e quente entre as velhas ruas dessa cidade. Hoje eu vim porque eu quis, quis mesmo, não há nenhum outro motivo que tenha me trazido até aqui senão a mais pura e sincera vontade de olhar pra ela, e só. Eu mandei mensagem, eu fui atrás dela e eu quis estar aqui. E pela primeira vez em muito tempo me sinto em paz em estar percorrendo cada rua daqui, cada quarteirão, cada canal até chegar na ponta, observando as velhas construções desse lugar, tipo apreciação mesmo. Não faz tanto tempo assim desde a última vez em que estive aqui, mas sempre que eu volto há diversão e novidade, mesmo que não a envolva. Foda é que quase sempre a envolve, ou algo/alguém que me faça chegar até ela ou ela até mim. Poucas vezes foram diferentes disso.
Eu gosto daqui, sempre foi o ponto de encontro mais próximo pra nós duas, mas pra ser bem sincera eu só me lembro o quanto gosto de estar aqui quando estou... E longe eu não penso em voltar. Não penso porque eu associei estar aqui à vê-la, alguns locais a ela, a estar com ela, ao cheiro dela, ao sentimento por ela. Blá blá blá do caralho.
Mas hoje eu vim. Porque eu quis. Hoje eu, corajosamente, vim. Hoje eu voltei. E agora mesmo que eu desista, já ficou tarde pr'eu voltar. É bom estar aqui, no geral. Respirar o ar, reavivar lembranças enquanto atravesso a cidade.
Não tem como eu estar aqui e não saber que ela me espera quase no final da cidade. Sempre espera, sempre esperou. O bom é que hoje não tem nenhum dos amigos playboy dela pra eu me fingir de retardada e burra, e concordar com tudo que eles falam por pura preguiça de socializar, só tem mesmo a ansiedade que bate antes que eu atinja o final dessa avenida, ansiedade por não saber o que me espera. E, aliás, o que eu espero? Me divido entre altas e baixas expectativas. Eu vivo com essas minhas ideias de que é importante eu encarar logo tudo de uma vez, os medos, insegurança e a porra toda...  Ela já foi um medo. Eu sei que posso vir a me arrepender quando encontrá-la, mas eu estou aqui, e aliás, sempre estou. Sempre estive, volto a dizer. Hoje a vinda é diferente, mas é só mais uma ocasião, parece que é só mais uma vez. Só mais uma vez, entende? Porque pode ser que amanhã mesmo eu volte, ou daqui 2 anos, como já fiz.
Eu precisava mesmo olhar pra saber como eu me sentiria. Essa porra toda é sobre mim, tudo é sobre mim, somente sobre mim, eu só vivo a minha vida, só sou capaz de entender 100% o meu próprio ponto de vista. Eu ainda sou egoísta, eu quero mesmo que tudo seja melhor pra mim e que se fodam os outros. Entende agora porque eu vim? É sobre mim, mas quantas vezes ela tornou isso tão tão insuportável e recorrente quanto meus sonhos com aviões caindo, pelo menos duas vezes ao mês. Época mais turbulenta ou eu sonhava com ela ou com os aviões, nunca juntos. Às vezes queria vê-la caindo junto os aviões.
Hoje eu vim, tô aqui... Mais uma vez dentro desse elevador. Aqui nesse espaço estou sozinha, mas me sinto apertada dividindo espaço com as memórias gostosas, mas que já não me deixam empolgada. A gente já fez tanta merda juntas, fodeu em todos os lugares possíveis, em cada canto desse prédio, vivemos tanto amor aqui e hoje me soa estranho que ela não me anima mais, nem lembrar dela pelada e das fodas que eu sei que foram muito boas, mas que já não me geram calor e já não vira pauta pra minha siririca.
Hoje eu vim.
Dessa vez eu não trouxe nenhuma droga, só um baseado, não trouxe o vinho que ela mais gosta porque eu quero ela falante, não safada, hoje não, hoje eu não quero encostar as mãos nela, sem dedos a empurrando deliciosamente pela buceta, contra a parede ou o colchão. Sem ela molhada e eu alucinada. Sem conotação sexual, sem beijo na boca, sem lamber a cara dela toda, sem minha língua tocando a dela, já dentro da boca. Não que eu costume negar sexo, mas ela... Ela, agora, eu só quero sorrindo, alegre. Feliz e nem precisa ser necessariamente próxima a mim.
Hoje eu vim. E ela tá aqui... sentada no chão da sala, fumando o baseado, me contando as novidades que eu perdi sobre ela, até aqui. Mais do mesmo. Não desejar tê-la pra mim é quase como a sensação de liberdade, quase a mesma sensação que eu tive depois que passei quase dois dias presa. Parece que a qualquer momento eu posso recair, mas eu me mantenho firme. Não sinto. Não sinto mesmo. Nem tesão, é absurdo. Ficou o afeto, carinho, respeito por ela que eu nunca tive, mas hoje há. É até legal ver ela soltando essas ideia de que me ama, porque pra mim o amor é relativo e as faces do amor mudam, então ela falar sobre amor soa mais do mesmo e passa batido, ignorado. Eu não sei o que ela quer dizer quando cita amor pra mim, tenho uma dificuldade tremenda em identificar emoção ou sentimentos, e eu odeio gente que manda recado. As coisas sempre precisam ser claras pra mim. E ela sabe.
Hoje eu vim. E trouxe também um livro que eu queria muito dar pra ela e minha vontade de estar ao lado dela, somente.
Nada mais.
Nada demais.
Nada a mais.
Hoje não tem putaria, não tem dois dedos dentro, não tem ela molhada, e nem fodinhas cotidianas na escada de incêndio de prédio nenhum, nesse texto não quero falar do quanto eu amava foder com ela na mesa da sala, no sofá... por pura raiva, trepava com ela pra massagear o meu ego enquanto eu encarava nossa foto colada no mural dela, colada ao lado de uma foto, do que na época, era a atual. Nossa foto de tempos problemáticos, não que eu estar aqui e os motivos pelos quais eu tenha vindo não sejam também problemáticos. Não que eu não continue problemática e causando problemas. Hoje eu vim. Mas a foto... A foto eu nunca gostei que estivesse colada ali. Várias vezes eu na sala dela, ela no banho, eu nua brisadona pela casa, já quis rasgar a foto.
Ela segue bonita. Madura ficou muito mais gata, melhor ainda.
Hoje eu vim. Hoje eu tô aqui.
Uma vez eu escrevi pra contar que, naquela ocasião, não tinha mudado nada eu vir. Mas hoje... Antes de eu chegar até aqui e satisfazer minha vontadezinha egoísta de olhar pra cara dela eu já sabia que hoje, tudo tinha mudado sim. Eu sempre acreditei que qualquer posição pudesse ser ressignificada e reocupada, tanto faz.
A sensação é de paz entre nós, conversas gostosas, risadas, não há silêncio desconfortável.
O que será que EU espero de mim? Ela não me cobra, não me pede nada mas eu não sei o que ela espera de mim... Eu sei que ela espera, no mínimo, que eu foda com a mesma vibração e intensidade de sempre... A cara dela não nega, mas estranhamente nada acontece no meu peito quando ela sorri.


Share:

0 comentários: