Essa cidade fica muito esquisita quando não tem sol, calor, bicicletas que vêm e que vão, pessoas por todos os lados, comércios lotados... E sem ela, de biquíni, apertando um fino sob a imensidão de um céu azul e uma infinidade de sentimentos sendo vividos a cada encontro, a cada troca de olhares, a cada toque ou sem ela desfilando sua beleza pelo apartamento branco vestindo somente sua belíssima e intimidadora nudez. Sei lá. Hoje eu tô achando tudo meio estranho. E deve ser porque eu fiz a viagem toda carregando a mala pesada das mágoas mal resolvidas, das minhas projeções falidas, trouxe de toda a bagunça um pouco. Mas eu estou aqui e digo: eu até gosto. Gosto mesmo. De verdade os navios em direção ao porto, dos prédios tortos, da estética antiga de alguns imóveis, do cheiro de umidade que os cantos do centro tem. Dela, principalmente dela. Que tem cheiro desse lugar, dessas calçadas, dessa areia, dessa praia, desse céu... Sei lá, ela é tudo isso aqui. Pra mim ela tem gosto de água salgada.
Eu só queria que hoje estivesse calor porque eu acho que o verão torna as coisas menos dolorosas, sabe? A minha teoria se baseia somente em ter lido uma ou duas matérias que afirmavam que as pessoas são mais tristes em lugares muito frios, enfim, foda-se.
É só um sábado frio, atípico, que eu tô aqui. Tentando abstrair a sensação que antecede qualquer encontro com ela. O medo de não saber o que virá e a minha extrema e idiota passividade de aceitar o que vier. É foda.
E pouco tempo depois lá estava ela também, nós duas aqui mais uma vez. Sentadas observando enquanto os coqueiros do calçadão dançavam conforme o vento, que batia lento em meu corpo me trazendo um pouco de frio e areia. Acho que hoje não tem bom tempo pra nós, eu segui escutando todas as palavras que ela tinha pra me dizer, olhando pro mar eu não conseguia parar de desejar que aquilo acabasse logo, o silêncio absurdo em mim e o barulho do mar, onda após onda quebrando... É cíclico, como nós. E eu sei que é mais uma despedida e ela sabe que eu sei. Eu não acho que precisava disso, mas ela acha que precisa então aqui estou. Mais uma vez. Eu sou boa pra caralho em satisfazer as vontades dela, em ser peça principal desse jogo, em ser coadjuvante pra esse teatro todo.
Ela disse que sabe que eu vou me casar em breve. Mas que porra. É esse o motivo do estresse. Foda que ela beijou minha boca assim que chegou e eu não acho que isso seja condizente com as falas dela. Cada palavra dita por ela me causa confusão, cria uma teia, por que ela beijou minha boca há cinco minutos e agora disse que me odeia?
E continua frio. Cada vez mais.
Eu acho que eu vou ser maluca por essa mulher pra sempre porque eu nunca vou poder ter ela pra mim, eu nunca quis isso efetivamente, acho. Enfim.
Foda-se.
Ela quer fechar o tempo. Eu permito que ela o faça. Me bloqueia, me ameaça. Faz o que quiser. Eu sabia que seria exatamente assim, eu só não sabia que à beira do fim faz mais frio.
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