terça-feira, 9 de julho de 2024

você me enlouquece, você me esquece... mas você não me engana!

Ela cochilou no meu abraço. Um sono leve, calmo, distante de qualquer sentimento negativo. Nós duas nuas na cama, ainda suadas, pareceu que de alguma forma eu nunca vou me livrar disso, eu não quis me mexer por alguns minutos enquanto observava ela quase embalando num sono profundo. O tempo cinza e gelado que entrava pela brecha da janela e invadia o quarto não me convidava pra sair debaixo daquele edredom por pelo menos essa noite e um pedacinho do dia também. Eu me senti parte da cena como um todo pela primeira vez. Da cama, do quarto, do apartamento, dela. Tudo. Infelizmente nós duas combinamos uma com a outra, ficamos lindas como um casal e por mais que eu viva dizendo que minha perna não treme com as de sangue azul, lá estava eu... Praticamente um casal com ela. Enlaçada numa paixão conveniente, quente, envolvente.
Eu gosto dessa mulher. Eu gosto mesmo dessa mulher. Muito. Pra caralho. Eu gosto dessa mulher desde sempre. Há anos vivendo uma paixão fervorosa sem compromisso algum, e eu honestamente não sei porque a gente nunca quis dar muito certo mas, eu gosto tanto dessa mulher que quando eu me vejo assim, com ela, um silêncio total e confortável, ela grudada em mim, no ápice da nossa intimidade... Eu sinto vontade de chorar, eu queria que nossas horas juntas fossem diárias, fossem comuns, que nosso tempo em paz fosse esmagadoramente maior que os tempos de guerra. O orgasmo traz essa bandeira pra cama pras nossas vidas, mesmo que temporário.
Sempre que eu olho pra ela e eu penso que eu sou maluca por ela, às vezes acredito que eu poderia viver somente na vida dela e seria feliz assim, exatamente assim... Com ela.
Ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela... Sempre ela. Sempre a mesma bicuíra filha da puta. Sempre, sempre.
Sei lá. Eu não sou muito boa pra entender sentimento então eu inventei que sou maluca por ela, acho. Penso assim e me conformo que existem coisas que ficam melhores quando são somente uma ideia do que na prática em si. Acho que é por isso que estamos aqui agora, fingindo uma relação pra esconder o desejo escancarado pela casualidade e o medo dessa paixão bem louca ser consumida pela obsolescência. Ela trepa comigo pensando em não cair no esquecimento, eu trepo com ela sonhando em paralisar aquele momento. Escrevo pra eternizar essa mulher em algum lugar que seja só meu, por isso ela fica escancarada em várias linhas minhas. Acho que no fundo, no fundo.... Eu não quero esquecê-la.
Enfim.
Nem a claridade da tela do meu celular interrompeu o quase sono dela. Será que é assim que soa a paz? O silêncio é barulhento pra mim, mas o barulho da respiração dela ficando mais pesada por causa do sono, me distraiu.
Meu braço começou a formigar e eu me mexi, em resposta ela liberou o espaço do meu braço e se aninhou em mim na cama, o melhor côncavo e convexo. Meu cérebro produziu tanta maluquice ao mesmo tempo só com esse contato que eu não sei exatamente se eu conseguiria, naquele momento, entender qualquer pensamento. Aquele momento me prendeu a atenção, como pode? Se me misturar com ela dá uma briga boa, mas dá uma foda boa também. Muito sentimento envolvido.
Eu sigo vivendo a vida, mas encontrando aquela mulher sempre que posso, beijando seus lábios na calmaria das tardes de segunda até às loucas sextas à noite dando pra ela um  passe ilimitado pro meu mundo, pra invadir meus sonhos, pra corromper meus desejos, dei pra ela a chave da minha cabeça e ela mora lá há muito tempo.
E não há motivo além de uma sincera paixão que me faça ser aberta dessa forma. Ser receptiva. Eu demoro mais que o normal pra aceitar novas pessoas, pra fazer novas amizades, não sei.
Eu sou maluca por ela, repito. Se ela me procura, me pede, eu como. Eu vou fazer o quê? Eu meto com raiva, simulo o sentimento, simples assim, foda-se se depois eu me considero como um fantoche apaixonada ou dominada 100% pela obsessão em tê-la nua, por me observar pintando em seu corpo com meus dedos como se ela fosse uma tela crua.
Eu já estou aqui, né?
Eu já tirei minhas roupas, não foi?
Eu não quero complicar nada.
A culpa é sempre de quem convém e por esse motivo - só por hoje - eu me sinto livre pra não sentir.


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