quarta-feira, 17 de julho de 2024

meu tempo é fração, meu coração sorveteria

Ela me pediu pra ficar no último segundo. No último mesmo... Eu já estava partindo daqui carregando uma maleta pesada cheia de rancor e mágoas. Os olhos dela estavam marejados, pude ver. Castanhos e vermelhos, os mesmos que ainda me arrebatam. Os mesmos que viram quando eu meto lento. Os mesmos que fecham o tempo.
O que é que há de errado? Eu gosto dessa mulher. É o meu coração partido que complica? Qual é o problema? Eu nunca sei.
A cidade lá fora é fria, e úmida... mas ainda pulsa. Desrespeitando meu sentimento, ela aqui dentro, fria também, me insulta. Ela quer que eu fique pra que nós possamos continuar essa briga até uma de nós voltar atrás e se colocar na posição de culpa, ela gosta de esticar o chiclete.
O que acontece com essa mulher, qual foi? Porque me parece que há duas dela, uma que me entrega seu tempo e seu corpo jurando que é só minha e a outra que perde a linha enquanto tenta se adequar comigo dentro de um silêncio desconfortável e pesado.
Eu não sei o que ela quer eu diga além de tudo que já foi dito. Eu não sei. Eu não sei mesmo. Eu não quero preencher silêncios, nem tempos... Eu não quero - também - passar o resto da minha vida tentando provar pra ela que ela vê coisa onde não tem, que ela imagina além do que há e eu nunca vou cansar de culpar ela mesma pelo nosso declínio. Eu só queria beijar sua boca até sumir seu batom e não borrar seu rímel em quase toda ocasião.
Eu só vivo aqui.
Eu só vivo agora.
Eu só tenho essa fração de segundo. Eu não sei o que virá depois disso.
E agora tudo que eu penso é que eu preciso me livrar dessa bagunça mesmo que nós a tenhamos criado juntas. Sair do olho do furacão, buscar um abrigo seguro. Longe. É por isso a fuga. É foda ter que se defender de tudo, mesmo que ela aponte verdades, mesmo que não.
Sempre que eu vou embora, eu sei que não importa como tenhamos acabado, eu volto no próximo sinal de calmaria desse mar pra me enfiar de novo nesse ciclo tóxico, no meio dessas pernas bonitas, pra fazer o óbvio, o recorrente. Eu volto pra morar no sorriso dela por uma fração de segundos.
Ela diz que eu sou perigosa.
Que se envolver comigo é perigoso.
Eu acho que se envolver com ela é gostoso até a página dois.
Ela pensa que eu sou fria e filha da puta, eu penso que ela é maluca e perturbada, bem mais do que eu jamais poderia ser. Pouco importa.
E a gente vai pensando o que quiser uma da outra...
Mas, honestamente, quando eu paro pra analisar a situação de forma mais fria, numa análise pessoal minha eu vejo que ela nunca foi mesmo bondosa comigo e acho que talvez por isso me garantiu tantas linhas.


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