segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

fogos de artifício

E de repente éramos só nós duas...
Perdidas de um grupo imenso de amigos com quem ríamos animadamente algumas horas antes. Lá estávamos nós, na entrada do morro, num boteco insalubre, ela bebendo gin, eu bebendo meu whisky com dois gelos. Nossos olhos atentos em tudo que a outra fazia, uma atração que ao longo da noite só crescia... Era nítido como a gente se queria. E de repente a gente se viu, ali. Uma oportunidade conveniente pro momento. Um pouquinho antes dos fogos de artifício coloridos e iluminados tomarem conta do céu, nossos dedos sujos de giz da mesa de sinuca - que ela tentou arduamente me ensinar a jogar. 
Eu numa sinuca de bico querendo beijar a boca dela, mas nunca encontrando a brecha certa. A música alta - que por sinal era um sertanejo antigo desses bem tristes - tomava o ambiente, nem parecia que estava todo mundo contente. A música era escolhida por um senhor já bastante alcoolizado que no canto, estrategicamente ao lado da jukebox, gastava diversas moedas pra alimentar sua solidão, uma porra de um velho sofrido que controlava tudo que tocava. O resto das pessoas do bar pouco se importavam com a música, e nós também e honestamente depois de vê-la no baile rebolando por quase uma hora inteira, dentro desse vestido rosinha... Nada mais estraga minha vibe nessa noite, eu juro. Nem mesmo o velho com alma de corno. Nem mesmo o boteco de gente fodida, nem mesmo esse whisky que com certeza é falsificado. Nem mesmo o fato de que aqui dentro do bar não pode acender um baseado. Porra nenhuma.
E eu e ela mantínhamos na mesma vibe... o que era bom. Nós mantínhamos na mais pura paz, no bar de corno ou no baile. Nunca imaginei, pra ser honesta. Nem sei como fomos parar nesse bar. Acho que ela quis usar o banheiro, e eu solícita pra variar fui com ela pra procurar um, sei lá. Mas o que interessa é que estávamos lá. Nada importava. Eu tinha um baseadinho esperando meia noite pra ser acendido. Ela tinha um charme que não me deixava sair do estado de transe, pura hipnose.
Próximo da meia noite o bar foi ficando vazio... O baile foi ficando mais cheio. Tínhamos a privacidade certa pra um beijo inapropriado, ali... no bar. Eu não sei quando é o momento certo, então às vezes eu escolho um aleatório. A beijei com a vontade que foi maturada por horas e uma impulsividade juvenil. Ela retribuiu. Me perdi e entre os beijos dela, fiquei tonta com tantas voltas que a língua dela deu na minha. Sem pausa. Pouca calma. O bar foi ficando pequeno e quente demais, então a convidei pro meu lugar estratégico por ser alto e escondido... Víamos o baile de longe, a música distante.
À meia noite nos beijamos, felicitamos, a porra toda... sem desgrudar. Os fogos rasgando o céu. Colorido e iluminado. Nós duas diante de uma atração mútua e fulminante. O corpo pedia, implorava.
Beijos e amassos entre a gente, tudo foi ficando mais quente... Entre mãos desbravadora e línguas no pescoço, interrompi tudo e perguntei, à título de curiosidade, como como seria o começo de ano ideal para ela, ela disse que "começar comigo dentro dela" seria dahora. Pensei que ela era maluca. Pensei que pode ser que eu seja maluca também porque quero o mesmo. E eu nem preciso dizer o que acontece quando a vontade é a mesma, né? Quando o beijo encaixa é onde mora o perigo.
Dito isso... Bem vindo, 2024.
Começou do jeito que eu gosto.



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