Eu continuo vestindo as memórias mais bonitas que tenho com ela, me surpreende o quanto ainda me cabem e combinam tanto comigo, passo horas morando na minha saudade. Apertada. Afogada. Quente. Num último suspiro eu sinto raiva de mim mesma porque eu queria mesmo deletar da minha mente absolutamente tudo que vivemos, esquecê-la, resetar meu cérebro, queria que tudo isso fosse como se eu nunca tivesse a conhecido, a conhecido nua, tateando seu corpo em busca de salvação, a conhecido em tantas situações que fica difícil não associar ela com algo do meu dia. Todo dia. Tirar ela da cabeça, viver plena como se eu não fosse perseguida, capturada e abatida pela saudade todos os dias. Mas pra ser honesta, só de não me lembrar o tempo todo eu já me sentiria muito mais feliz. Seria bom só não reviver essas memórias velhas, com cheiro de naftalina, seria bom não fabricar novas memórias que deixam saudade e não continuar vivendo momentos intensos semanalmente com ela, não ceder, não querer e é isso. Mas eu ainda bebo na fonte da saudade.
Me sinto sempre planando sobre a incerteza do que ela sente, e consequentemente nunca deixando que ela saiba - também - o que eu sinto ou já senti, aí é que tá o erro. Reclamo de quando ela faz o mesmo que eu, mas eu sei que posso ser um bloco de gelo se eu quiser, um paredão, uma porta, eu posso não comunicar nada e ainda assim esperar que ela saiba o que eu sinto, e honestamente ela sabe o que eu sinto, não é possível que não. A incerteza nunca espera pra destruir meu coração, pra amargar minha rotina, minha vida, nunca deixa falhas, vira gatilho, machuca. Enfim... essa merda toda.
Eu seria escrota ao dizer que acho que ela sempre me interpreta de forma errada?
Eu sigo morando numa casa imensa sem espaço nenhum pra mim. E é difícil cortar os laços, se afastar dos abraços, não desejar ela dentro de mim em todos os sentidos, não querer, não derreter dentro da memória que guardo dos meus lábios encostando nos dela, na primeira vez e em todas as vezes após.
Eu não seria capaz de esquecer. O ser humano tende a guardar memórias que machucam, masoquismo, o caminho até esquecer é espinhoso e sempre que eu tô na metade, eu volto correndo pra trás, eu fujo pelas laterais, eu volto. Acho que eu não esqueceria nem com qualquer tipo de terapia, mesmo que eu quisesse, e olha que juro que eu quero. Querer não basta.
E também tem a parte dela, que me dribla, que me tira de mim, que quando me chama me deixa ansiosa igual criança, ela... que é capaz de se aventurar comigo por todos os cômodos daquele apartamento do nono andar, do condomínio, do bairro, dessa cidade, dessa areia... Mas depois sempre vai me deixar morando sozinha com a minha solidão, o apartamento grande fica o dobro do tamanho pela manhã, e mais frio, e tudo de novo logo após: quando eu tô prestes a esquecê-la, ela me chama e me tira a roupa, o ar, a saudade, a vergonha. Minha luta silenciosa segue plena, mesmo quando eu tô trepando com a porra da minha algoz, criando novas memórias, numa corda bamba, tendenciosa sempre pro pior... talvez ela não me interprete de forma tão errada assim.
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