Ela some, mas ela volta. É uma certeza vazia, convicta, sólida. E daí ela fica nisso, fode comigo e ainda assim continua na moita, em cima do muro, indecisa me prende nisso, se prende nisso, nos faz perder tempo com isso, sabe que me ganha no meio disso tudo, me ganha no olho do furacão emocional que essa mulher é. Eu não me abalo, não me faço presa fácil, eu fujo, sumo, escapo de dentro de qualquer situação que não me vejo obrigada, e faço o meu melhor para que eu saia ilesa, igual rato, sempre pensando em si antes de tudo porque o instinto de sobrevivência grita. Eu pularia do nono andar igualzinho fazem os vilões em fuga, nos melhores filmes de ação. Eu também saio correndo, eu fujo pelas escadas, eu roubo placas, eu bagunço os detalhes, eu também sumo da vida dela, eu também ignoro, eu também revido, eu também sou otária, tenho um milhão de comportamentos escrotos com ela, eu corro léguas mesmo asmática, atravesso dois bairros inteiros para fugir da presença dela. Como revide ela some. Me ignora, me esquece e não faz ideia do quanto isso me perturba, e dói. Me desapruma. Sempre igual. Sempre. Briga, some, surta comigo por erros do passado, porque não me compra igual ela faz com os amigos dela, ela inventa qualquer coisa e jura que me odeia, aparece desesperada e diz que me ama, eu também digo e a gente transa, ela volta, transa, fica, transa, transa, transa mais, fabricamos amor, mais que isso paixão, apaixonada ela diz que vai mas volta, e volta mesmo, vem e me beija, beija, beija, a gente se curte, se ama e transa, e aí ela surta, enxerga meus defeitos e some. Essa atitude me fode. E quando ela volta é sempre equivalente à uma queda brusca, no melhor estilo "surprise motherfucker!", de paraquedas no meio da minha vida de novo, mesmo ciclo, mesma mulher, mesmo beijo gostoso, me assalta os amores, os textos e toda atenção, suspirando, encho ela de poesias baratas e drogas caras queimando as madrugadas afora perigando pela orla, em retribuição ela me dá algumas horas de irracionalidade e uma infinidade de orgasmos, beijos e sentimentos, alguns novos até, mas a maioria deles chega até mim com o mesmo gosto de sempre, a mesma forma gostosa e atraente de sempre, o mesmo rosto de sempre, o mesmíssimo chá de buceta delicioso de sempre, no máximo uma tatuagem nova e um corte de cabelo diferente e pronto: eu esqueço o que ela me fez porque eu não sou rancorosa, eu não consigo remoer o passado a não ser que ela me provoque muito, me faça chegar no limite, mesmo quando eu olho pra ela de forma fria e vazia. Eu não guardo rancor, é por isso que eu volto. Pela inspiração e pelo tesão barato porque agora construir laços maiores com ela novamente me causam algum desconforto estranho.
Eu aprendi à respeitar o que ela sente, à falar o que eu sinto também. Entendendo e aceitando que eu não sou certa nem errada, que muito disso que eu sinto me pertence mas muitas coisas não. Eu dei passagem pro sentimento do início ao fim, ela não ficou porque não quis. Porque não era pra ser. Sei lá. Não quero discutir essas pautas porque eu sou cheia de positividade em relação a nós e ainda assim nada muda.
Toda vez que eu fecho as portas, ela me abre as pernas, faz parecer que minha cama e meu corpo são os melhores destinos turísticos pra ela. Ela me convida, eu embarco na ideia, eu entro nela, furiosa, assim nosso ciclo recomeça. Ela me olha provocativa, penso que essa buceta é armadilha, mas caio, mas entro, bato forte, meto fofo e ela gosta, me solto da armadilha pra cair de novo. Me deixo então ser presa burra propositalmente, deixo a peça longe de mim quando estou com ela pra parecer mais inocente. Cega, de olhos fechados eu puxo ela pela cintura e daí em diante eu pareço hipnotizada, em transe. Se é isso e só isso que ela quer de mim, a gente transa então, tanto faz. Uma foda a menos, uma foda a mais. Ela gosta de mim porque a gente transa encaixado e talvez seja esse motivo que eu não supero, talvez o motivo seja a paixão que eu tenho por estar com ela entre madrugadas de baile, madrugadas de praia vazia, sem medo, madrugadas no apartamento, madrugadas de poesias onde ela me crava os olhos, a ponta dos dedos e tudo mais... e eu invento de sentir paixão.
Sei lá.
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