Era, sei lá... Aproximadamente uma da manhã, eu não sei. O ácido me derretia com uma intensidade terrível, distorcia totalmente minha noção de tempo. Sem horários, sem nada. Sem amarras. Praticamente à vontade, solta, entregue para àquele momento ali com ela. Eu não acreditava nem mesmo que a presença dela vinda de tão, tão distante fosse real. Mas era. Real até demais. Real ao ponto de que só o fato de que assim que ela encostou em mim já mexeu comigo e me encheu de sentimentos. Arrepiou os pelos, deu choque no beijo. Sim, beijo. Afinal... Eu não consigo - ainda - não desejá-la em cada vez que a gente se encontra e não consigo conceber que ela fica com uma dezena de outras pessoas, também. Na minha ausência. Como apontar o erro dela e fazer a mesma merda ou talvez pior? Torço para que muito em breve eu consiga não ceder pra essas trepadas sem sentido, torço para fazer daquela mulher alguém comum, alguém que não ganha minha atenção, alguém que eu realmente não quero mais.
Enfim. A droga chacoalhava meu cérebro, acredito que o dela na mesma intensidade e não nos deixou dormir nenhum pouco, foi gostoso até, foi intenso como sempre é, e eu senti todos os sentimentos bons pipocando tudo de novo, quase 100% calmaria pro meu barco... Se não fosse a ansiedade sendo âncora e me antecipando os problemas que virão assim que ela abrir esses olhos lindos pela manhã, a ansiedade me adianta sentimentos que eu ainda não tenho, o receio e anseio de uma nova despedida ali, me espiando pela fresta, prestes a entrar no cômodo à qualquer instante, à me obrigar a fugir. Eu tive mesmo que exercitar uma tranquilidade e paciência que eu não tenho.
Mas dessa vez... dessa vez eu consegui e mantive a calma enquanto eu sabia que algo de muito complicado viria pela manhã, assim que a brisa dela passasse, assim que a gente acordasse juntas. Torci pra que a gente não dormisse, então. Pra que pelo menos um dia fosse um pouco menos tóxica e radioativa essa relação. E ela estava ali, tão indefesa, tão desmascarada, nada tóxica e totalmente descontaminada, eu não pude evitar poupar aquela mulher de sentir toda a angústia que esse encontro me causa, via de mão dupla. Entrei na dança, como manda o figurino. Cedi e fiz ela sorrir, feliz.
Eu queria evitar lembrar dela pelada quando eu toco em outros corpos, por isso não fico com mulher que se pareça nem mesmo que minimamente com ela, nem com o mesmo nome, para que eu não seja obrigada à pronunciar um chamado silencioso por ela. Nem com o mesmo signo, e eu tô pouco me fodendo pra essa porra de signo. Mulher de saia e allstar preto jamais. Good vibes jamais. Repelindo qualquer coisa que me remeta à ela, mas transando com a própria em cada oportunidade que tenho, sem desperdiçar uma.
Quis viver o momento ciente das consequências, pronta pra caralho pro impacto das coisas que a gente se permite, se obriga e se expõe sem necessidade nenhuma. Uma busca incessante. Desperdiçando meu sonho de dançar tango no nosso casamento, como combinamos aos dezessete anos de idade, uma noite qualquer ali perto do canal 6. E talvez, isso até se concretize de alguma forma um dia.
O amor é um sadomasoquismo do caralho, né? Veja. De novo eu aqui nessa cidade, no nono andar, depois da foda mais foda, escutando ela falando besteira, frases bobas e sem conexão, assuntos que a gente não precisa absorver, pillow talk, não cansa e não pesa. É incrível o quanto ela exala tranquilidade quando quer trepar comigo ou quando consegue o que quer - o que queremos.
Eu sigo sendo a apaixonada de nós duas, acho... e ela segue ela soprando fumaça na minha direção, ela ainda é a mesma pessoa desafiadora. Eu observava pela janela do quarto dela algo como uma estrela no céu, parecia até próxima da Lua, tão solitária quanto eu. Mesmo tendo a lua ao lado. Assim como eu. É foda. Enquanto eu fumava meu beck me questionei porque continuar indo atrás dessa filha da puta quando a gente simplesmente só encaixa no sexo e nada mais. Não vejo e não quero, acredito, conexão alguma com essa mulher. Nada. Acho a vida que ela leva muito chata, etiquetada, pautada. E ela me acha maluca, acha que eu transo com cinquenta mulheres na mesma semana e isso nos gera um sério problema de confiança. E a verdade é maior e mais renitente que isso, eu transo com outras a cada vez que não me sinto amada o suficiente.
Fumamos muito e conversamos sobre quase tudo. Quase. É incrível o quanto ela consegue não me deixar na bad quando ela quer, pelo simples fato de ela querer. É incrível o quanto ela consegue adentrar a nuvem pesada de chuva e me levar pra dias incríveis de Sol por aí, quando ela quer... E eu quero também, eu quis durante todo esse tempo... Mas agora eu só quero mesmo, muitíssimo que ela seja somente mais uma. Só mais uma mulher cujo gosto do beijo encantou meu paladar, algum dia.
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