quarta-feira, 19 de outubro de 2022

cínica manhã cinza

 "Bom dia!" - Eu gritei e ela sorriu, genuinamente feliz em me ver. O estado de apaixonamento em que ela se encontra, ainda - assim como eu - a fez beijar a minha boca com disposição, um misto de afeto e desejo que eu nunca senti antes com ela. Fiquei nervosa. Tremi mesmo. Praticamente me agarrou assim que me viu, sem muitas etiquetas ou regras na recepção, só amor e beijo na boca. E eu adorei. Minha saudade me fez abraçar aquela mulher tão apertado que o choque foi inevitável pra nós, foi físico, carnal, quente, fez um barulho imenso no coração. Contato, às vezes é só disso que eu acho que a gente precisa. E por isso, dado a intensidade que somos nós, eu e ela, perto demais, os medos, os receios, traumas ou sei lá, às vezes voltam. E eu não quero mesmo encontrá-la porque eu preciso sentir e entender que, pra mim, seguem sendo encontros onde eu nem quero ou devo dar algum significado, são encontros onde eu me levo por inteira e tento me preservar o máximo possível pra não voltar em pedaços, mas eu continuo me permitindo porque eu nasci filha da puta até comigo e muito corajosa. E também não deixá-la em pedaços do alto da vida dela lá no nono andar. Porque eu sou eu, e só posso ser eu e ela não ia se atrair por mim se fôssemos iguais. Eu sei que ela sente o mesmo.
Ela sabe que eu mudei pra caralho e hoje em dia eu a trato com amor e cuidado, mesmo ela sabendo que eu não vou viver dentro do cercadinho limitado onde ela quer que eu viva porque isso só vai fazer eu sumir ou virar um ponto de interrogação na vida dela, um buraco negro, verdadeira mulher mistério. Então confesso que vez ou outra ainda me perturba um pouco encontrá-la, me assusta um pouco mesmo que eu não fique remoendo os sentimentos e sensações ruins, nem projetando que tudo pode ser mesmo bom, tudo paz, mar de rosas e tudo mais. Talvez seja minha maior convicção: a capacidade que todo mundo tem de conseguir ficar em paz. E o direito de lidar com tudo da forma que for melhor pra si.
Enfim.
Faz um tempo que eu tô mó paz.
Faz um tempo que ela tá mó paz.
Faz um tempo que ela não me chama de estoicista de merda.
Faz um tempo que eu não transo com ela de forma voraz, também. Ela me excita no mesmo nível que me assusta. Aliás, acho que tenho atração física por estar em risco. Só nisso somos iguais. Uadauel.
Faz um tempo que ela senta em bares quaisquer acompanhada de qualquer outra mulher que não sou eu, me mandando mensagem falando que o sábado a noite não tá como ela realmente gostaria que estivesse, me contando depois que essas mina patriçoca que ela se envolve suga o humor dela. Dialogo longo até eu mandar um "Se eu te der um montão de beijo na boca resolve? ✓✓".
Atraída 100% pelo perigo, repito.
E foi exatamente assim que ela pôs fim ao espaço de tempo que eu não vinha até ela na velocidade de um foguete da NASA.
Ela faz o momento ser o certo, eu gosto das fugidinhas que damos, das risadas que damos, das fodas que damos e já demos.
A selfie que ela tirou comigo no espelho do banheiro do quarto dela capturou a fumaça do baseado e minha expressão que deixava claro a vontade de passar ao lado dela o máximo de tempo que nos fosse permitido. Hoje. Resolvi o humor dela com muita língua, maconha e dois dedos. Ela me excita no mesmo nível que o perigo.
E eu nem sei dizer se ela fica mais gata de noite ou de dia.


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