segunda-feira, 18 de julho de 2022

todos os dias antes de dormir lembro e esqueço como foi o dia

Os primeiros raios de sol que decretaram o fim da madrugada a deixaram ainda mais bonita. Fiquei pensando no quanto eu gosto dela. No quanto eu gosto quando ela me chama, quando ela faz questão de me ver. Mesmo que nem sempre seja pra sei lá... só suprir alguma lacuna emocional, às vezes é só carnal. Carência. Saudade. Não importa, eu amo e que se foda. Eu amo cada encontro e sempre lutei muito pra que a gente não ficasse querendo dar sentido e simbologia pra tudo, por isso cada encontro até hoje, até aqui foram como o primeiro. Sempre conhecendo um pouco mais dela, mas nunca muito... estranho, até. Tudo sempre do zero. Por mais que eu goste, até isso cansa, enfim.
A varanda do quarto dela totalmente aberta me permitia uma visão dela em alta definição. Clara. Bem iluminada. Dentro do meu abraço. Mais iluminada. Até despenteada. Cara de sono e rebordosa clássica e evidente de quem usou droga, bebeu algumas coisas, trepou pra caralho e dormiu mal, um déjà vu com uma colher a mais de açúcar e uma dose gigantesca a mais de amor, o afeto jogado aqui... em uma de suas formas mais puras. Tudo muito melhor e muito mais genuíno do que eu poderia imaginar, desejar ou prever. A sensação de conforto foi predominante pra mim, inédito. Juro. Paz demais. Liberto. Solto. Zero conflitos. E pra mim é isso que eu acho que o amor precisa ser: segurança, reciprocidade e paz. Cais. Eu prefiro ser a mulher que sou hoje, que silenciou as inseguranças de antes e prefiro a mulher que ela é hoje, silenciando as incertezas de agora. E eu me orgulho da mulher com a maturidade e responsabilidade que ela se tornou porque sei que a principal diferença entre nós é que eu sempre fui cercada de amor e segurança desde pequena, e ainda sigo numa tentativa de melhorar todas as minhas relações - inclusive com ela. Demorou até ela finalmente entender isso, baixar a guarda e querer o mesmo. Sem criar batalhas, sem me fazer criar barreiras, sem retaliações idiotas ou desgaste emocional porque eu já não tenho mesmo mais idade pra isso, nem paciência.
Na madrugada tudo que eu tinha era o silêncio de paz dentro da minha cabeça, o ambiente sendo preenchido pela minha voz e as risadas dela por qualquer coisa boba que eu falo. Ela vai rindo, rindo, rindo... E de repente quando eu percebo, a gente se agarra, se pega pra caralho. Eu me sinto muito atraída por mulher feliz e por mulher filha da puta. Ela consegue ser os dois, é sobre isso. Gosto do sorriso dela quando está comigo, da risada, da nossa aproximação espontânea e principalmente de como toda vez em que a gente se encontra o toque, contato, estar no mesmo ambiente se torna algo necessário pra nós. Por isso eu gosto de equiparar ela à um vício porque é na mesma intensidade que eu vivo, absorvo da mesma forma. O mesmo impacto. O mesmo arrependimento no pós.
O que ela não se propõe a fazer que ela não concretiza? Nada. É foda.
Meus dedos buscaram contato com ela a noite toda, a pele macia do braço, o calor das coxas encontrando o morno das minhas mãos. A ponta dos dedos na barriga dela, o carinho leve e ela sonolenta quase dormindo, mas querendo viver tudo ali comigo. A vida preparou pra mim um cenário ideal, a cama, a luz do quarto, todo o espaço e ela totalmente dentro dentro do meu abraço, clichê, a sensação de segurança era prevalente. Essa foi uma das poucas em que adentrei o apartamento do nono andar tendo muito claro que eu queria estar ali.
As mãos dela também me buscaram boa parte da noite e tudo parecia sonho demais pra mim. Sem a minha busca incessante por sabe-se lá o quê, sem ela me cobrando coisas que eu odeio ser cobrada. Sem nada, nada de ruim, nada de tenso. Nada mesmo. Nem olhos castanhos fechando o assunto e o clima.
E foi mesmo muito tempo até aqui, muitos encontros onde a gente estava desencontrada e sem propósito nenhum. Não que agora tenha um grande propósito, não há - pelo menos não pra mim. Só queria um momento ao lado dela e acredito que são só as coisas seguindo o rumo que a gente dá pra elas. Os sentimentos tendo o peso que a gente dá pra eles. E além do mais ela sabe que eu não vou ficar guardando rancor nenhum.
O charme dessa mulher é inquestionável. Me agarra, me enlaça. Eu não consigo não prestar atenção nela. Quando ela me olha parece que me arranca suspiros, me rouba mesmo o ar e me preenche com tanta paixão que às vezes chega a ser demais pra mim. E tudo estava lá, diante de nós, acontecendo. Insuportavelmente e deliciosamente encaixado. Ligado. Certo. Continuado. Como se a situação toda tivesse sido muito esperada por mim, por nós. Foi como se eu nunca tivesse passado um dia sequer longe dela, eu dormi e acordei na brisa. Eu dormi e acordei com ela ali, dentro do meu abraço... totalmente nua, despida de orgulhos, do ego e dos medos. Via de mão dupla.
Foi difícil sair da cama.


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