E quando eu menos esperava, lá estava a minha parcela de culpa, minha fatia do bolo de sentimentos que ela faz e me serve em quase todo café da manhã que eu fico pra ver o que acontece, mesmo sabendo que sempre acontece o mesmo. Novamente a mesma merda de sensação vazia que preenche o peito e os pensamentos com agonia. Quis fugir. Eu sou rato demais. Olhei em volta e fuga também não me soou confortável, nem possível, mas não estranhei a sensação pra ser honesta. A culpa chegou igual boleto, pontual. Tenho "je ne regrette rien" tatuado no tornozelo, mas quando eu me sinto assim tem coisas que eu "regrette" pra caralho. Por um momento me arrependi por tê-la beijado a noite toda, por ter transado com ela, por estar aqui, por ter encostado as mãos nela e ela estar agora recoberta pelos meus fluidos corporais e digitais da cabeça aos pés, até dentro dela. Estava considerando e torcendo que o amanhã seria sem nenhum pensamento conflitivo pra ela e diretamente pra mim. Sem nenhuma cobrança, sem ela explodir ciúmes sabendo que eu beijo outras bocas e transo outros corpos. Queria transar com ela porque é gostoso, porque eu gosto de buceta, porque eu adoro quando ela me cerca e senta no meu colo, queria uma foda com ela sem o peso do sentir. Sem a gente estar emocionada, bêbada, drogada jurando que se gosta, talvez eu a ame mesmo, em alguma das faces do amor. Mas é foda porque o problema pra mim nunca é o agora, sempre é o depois. Eu queria a paz de uma foda sem stress. As coisas são claras, mas ela quer significar muito as coisas. Eu só vivo aqui. Eu só sei que vivo aqui, agora e o agora. E tanto faz também. Eu só não a quero jogando sentimento no meu colo, pra que só eu lide com isso. É por isso que eu aprendi a fugir. Por isso que eu saio antes do sol nascer.
E assim eu vejo que realmente o processo entre mim e ela é longo pra caralho porque eu vejo que nada mudou. Ou pelo menos não mudou o quanto eu gostaria que mudasse. Talvez parte do processo seja eu nem estar mais aqui impregnada com o suor dela, dando pra ela várias vezes sem parar na mesma noite, consciente do perigo, eu rio na cara do perigo e continuo beijando a boca da perigosa, com uma vontade incessante, destemida. Talvez parte do processo seja eu resistir a estar com o cheiro da buceta dela em mim. Tá paz. Cansada de saber que as expectativas são minhas. Ela não supriu as minhas e eu sei que tô bem abaixo das dela. Meu comportamento é bem diferente do dela e eu não quero mudar comportamento de ninguém e tampouco ser mudada. Somos resultados de experiências, vivências, criação, tudo influi no comportamento, ela não vai me entender nunca porque ela não sabe nada da minha vida mais. O que eu esperaria de alguém que sempre pisou em flores? Vida tilelê. Deixando os problemas pessoais serem re$olvidos pelos pai$. Fazendo a mãe dela vir conversar comigo pra me fazer voltar atrás. Foram anos de tentativa. Eu gosto dela, mas o amor não é tudo.
Enfim.
A manhã pesa e eu nem abri os olhos direito ainda. Que saco. É muita burocracia e ressaca emocional pro prêmio ser só buceta e orgasmo. E sendo bem honesta: gostoso, delicioso, mas não único, não melhor, não o último...
Ela faz minha sentada ser medalha. Tem hora que eu gosto, mas às vezes me sinto objetificada.
É.
Mesmo vazia, acordei até feliz e animada, apesar de tudo. Por tudo. As noites com ela são quentes, mas as manhãs são mornas, quase frias já. Relutei em sair da cama porque eu realmente queria ficar somente com a sensação da expressão dela de feliz na mente, de satisfeita. Somos ótimas parceiras. E o problema é justamente esse: é só na cama, não na vida. Eu sei o quanto eu mudei com os últimos anos e sei também o quanto ela mudou. Eu gosto dessa mulher, e eu tô cansada de saber disso. Mas o amor muda. Tudo muda. Até o sexo muda, por anos mesmo eu achei que ela tinha sido a melhor trepada da minha vida. Mas passou.
Na manhã seguinte a encontrei na sacada, ela já me aguardava com café e beck, sempre as mesmas ideias de que já não sabe quem eu sou e que não me conhece, que eu não falo sobre minha vida fora do nono andar, que ela se preocupa comigo, me pergunta porque eu ando sempre com a peça do lado, porque eu só sorrio na intimidade com ela, que ela sempre tenta me (re)conhecer mas nada muda, diz pra eu me abrir, e ela insiste que não me conhece mais, diz só sabe me dar e me fazer gozar - Olha ela me gerando mágoas aí! - Me colocando numa posição como se eu só viesse atrás de sexo, como se eu transasse com toda e qualquer mulher que aparece na minha frente, como se gozar fosse combustível pra mim Talvez seja, não sei, eu só dei dar risada e fugir, não sou mais a mulher que gasta palavra com qualquer coisa. Sexo é importante pra mim, às vezes, dependendo da pessoa.
Me abraçou levemente pelas costas, beijou meu ombro, respirou um pouco de mim. Falou, falou, falou... Ainda me pediu desculpas depois.
Eu me mantive quieta.
Eu não tinha o que falar mais.
Vou continuar transando com quem eu quero, com quem me atrai, continuar me envolvendo com outras mulheres e usando as drogas que eu quero... Eu não sei o que ela espera de mim e de nós duas, mesmo que ela tenha falado uma hora quase inteira sobre isso. Eu odeio muito o tanto de voltas que ela dá pra chegar.
A manhã era pra ser uma manhã de Sol ao lado dela, mas os olhos castanhos da cor da tempestade que chega fechou o tempo tão rapidamente que eu só abri meu guarda-chuva e concordei que talvez eu seja uma pessoa totalmente diferente e ela me conheça quase nada fora do nono andar.
E sem zuera? Que se foda.
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