segunda-feira, 2 de agosto de 2021

mas isso outra vez?

E antes mesmo que eu pudesse parar, desacelerar um pouco, processar e lidar com toda desarrumação mental, emocional que foi eu tê-la encontrado - e lidar, também, com o fato de ter fugido - em uma noite que tinha tudo pra ser incrível, mas que soou tão adversa pra mim, ela estava lá... na minha porta.
Eu não sei o que ela faz aqui.
E só pra pontuar e falar a verdade talvez o excesso de droga na minha cabeça aquela noite tenha feito eu me sentir um pouco mais atacada e desrespeitada do que eu realmente posso ter sido. Eu vou acreditar que sim, que foi só uma percepção distorcida da realidade, momentaneamente, devido ao efeito do mdma. Todo playboy quando me olha me vê como um milheiro de papel, os amigos dela então... Mas eu estava lá, por ela, pela consideração, por dinheiro, não importa. Eu estava mesmo me permitindo acreditar que me enganei, tentando dar uma segunda impressão pra quem tira com a minha cara e com o jeito que eu falo, socializando e fingindo que eu não sabia o que eles queriam. Nunca foram meus amigos de volta. Mas tá bom. Suportável. Eles não fazem parte da minha vida, eu já nem sei se eu quero falar sobre isso outra vez. E eu decidi começar a tentar ver o lado bom das situações e das pessoas, mesmo que naquela situação quando eu penso sobre tudo eu realmente não acho mesmo que eu tenha feito a coisa errada ao fugir. Literalmente fugir, pá puff... Teria sido pelo nono andar se eu fosse o James Bond, igual deu lá no meu teste MBTI. Eu estava ali e de repente eu não estava mais, rápido e fácil assim. Rato foge. Rato é muito bom de fugir. Pareceu uma atitude ruim, situação engraçada e mesquinha até pra mim, mas eu vou me respeitar sempre, qualquer pensamento ou vontade minha por mais maluca que possa soar eu vou respeitar acima de qualquer consideração, minha consideração vem comigo em primeiro lugar. Aquele rolê de fazer o que for melhor pra mim.
B l á b l á b l á.
Mas eu não sei o que fazer agora, eu não consigo pensar em nenhuma rota de fuga, não tenho nenhuma carta escondida na manga, eu não sei o que ela faz aqui.
Eu recebi a mensagem dela no whatsapp avisando, com uma foto da portaria do prédio onde eu moro, cinco minutos antes de ela tocar o interfone da minha casa sem parar à quase uma hora da manhã no meio da semana mais fria do ano.
Pensei em não atender por dois minutos inteiros, cento e vinte segundos pensando em sumir, mas ela continuou insistindo e eu lembrei o quanto eu quero parar de ser cuzona com ela. Pensei em descer rápido igual uma bala e beijar a boca dela com toda paixão do mundo, a mesma paixão que eu guardo no bolso só porque é impossível esquecer, mas que eu já nem sinto queimando, pensei, novamente, no quanto eu quero parar de ser cuzona com ela... quando eu me lembro da gente, eu lembro que já jurei tantas vezes parar de ser assim com ela e por quantas vezes eu não peco e me permito ser comandada pelo ego? Hoje vai ser diferente, não por ela... mas por mim.
Optei por fingir não ter visto a mensagem, fingi surpresa ao atender o interfone. Eu nunca ouvi a voz dela no meu interfone, foi uma novidade confusa pra mim. Eu não fiquei confortável com a visita e o principal fator é eu não saber a motivação da presença dela aqui, e é bem estranho olhar ela e meu bairro juntos no mesmo quadro. Parece que não encaixa.
Que porra ela está fazendo aqui? Qual é o problema dela?
Faz quatro graus na rua agora e ela está lá fora no frio madrugadeiro da cidade cinza, admirei a coragem. Essa mulher é mais louca que eu, sempre foi. Caralho. Eu sou só mais sangue frio, mais estrategista, eu fazia as coisas na intenção, na vontade de magoá-la mesmo, sempre propositalmente, sempre pro lado mais errado e dolorido da coisa... Sentir um impacto negativo era melhor que não sentir nada, né? Eu só fui mais filha da puta, mas a louca da relação sempre foi ela. A mais fervida, estourada, a maluca... Acho. Ela era o lado mais emoção, mais no estilo fazendo as coisas sem pensar muito, só pra continuar fazendo coisas uma pra outra que só geravam coisas ruins, um sentimento ruim de digerir e que mesmo não sendo tão benéfico pra nós, ainda era um sentimento. O ódio mantém a gente ligado a alguém, né? Acho. Ódio ainda é um sentimento se você alimenta. Imagina agora quando é ódio e amor juntos? Tudo demais... Alimentados demais. Sentido demais porque com ela eu nunca consegui sentir pouco. Eu nunca consegui gostar pouco de nada. Ódio, paixão, ciúmes, razão, emoção... se você misturar tudo isso dá eu e ela. Eu sou pura paixão, razão e erro.
Que se foda... nada muda os fatos agora, né?
Ela tá esperando eu apertar os botões pra abrir a primeira portaria, ainda, tem aproximadamente meio minuto. Por incrível que pareça, meio minuto parada, sem fazer nenhum tipo de barulho ou movimento, pra mim, é muito tempo. Eu calculei, calculei e pela primeira ela encurralou o rato e não foi nem foi entre as pernas. Olha só.
Eu não sei porque ela veio, por um segundo pensei na placa roubada, por um segundo pensei que ela poderia ter seguido a recomendação dos órgãos mundiais de saúde e ter simplesmente FICADO EM CASA. Ela não teria vindo lá da casa do caralho só por causa da placa, sei lá. Eu não teria ido até lá se eu soubesse que o único saldo positivo e ápice daquela noite seria eu ter roubado a placa, enfim. Ela nunca veio até aqui por mim, também. É importante lembrar. Tampouco viria por culpa de uma placa de R$9,90.
E eu não sei lidar com ela na minha porta. Sabe quando parece que quanto mais a gente tenta amenizar mais desconfortável a situação se torna? Então.
Eu permito a entrada.
Ela não deve demorar até estar tocando minha campainha. Ainda estou surpresa e admirada em como ela pela primeira vez encurralou mesmo o rato e o obrigou a lidar com a situação instantaneamente, no ato mesmo, sem fugir... ela não entenderia nem que eu explicasse.
Não importa mais o motivo pelo qual ela veio, hoje eu não vou quebrar os acordos de paz.



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