05h28.
Os pássaros cantam lá fora alheios ao descanso de todos, e eu aqui, com meu bloco de notas aberto, algumas substâncias ilícitas na mente e ela ao meu lado. Ela, talvez, seja o mais ilícito.
Eu sou capaz de ouvir meu coração batendo esquisito, sinto como se aparentemente estivesse errando o compasso das batidas, tipo sopro. Além da doença mental que vocês chamam de amor, talvez ela ainda me cause um colapso algum dia. Acabei de descobrir que ela me deixa nervosa até enquanto está dormindo. Nervosa até quando está parada. Ela só precisa me olhar e pronto, mãos tremendo, suadeira, gagueira... Nervosismo igual aos que eu sentia quando eu tinha dezessete anos e não sabia lidar com mulher. Hoje eu até acho que sei, mas ela segue sendo meu ponto fraco.
Ela. Ela. Ela. Ela.
Ela segue dormindo, linda mesmo bagunçada... usando minha camiseta e mais nada. Numa expressão de cansada, relativamente normal pra uma terça feira, quase quarta. Ainda é terça porque eu não dormi.
Uma terça feira e suas surpresas.
Ela. Ao. Meu. Lado.
Bateu necessidade de escrever e eu não consegui esperar até que o dia amanhecesse porque eu não queria perder isso. Esse momento... onde eu a vejo me procurar pela cama enquanto dorme. Ela só quer contato. Quer sentir a minha pele e só. Mas é algo especial de se ver mesmo assim.
E só por hoje eu não queria que a manhã chegasse... Mas em poucos minutos o Sol nasce e vai trazer um novo dia. Essa é a única certeza que paira.
E eu, repito, não queria que esse dia amanhecesse. Justo eu que tenho pressa em viver, adoraria ser capaz de só por essa noite, paralisar o momento. Ou pelo menos que fosse cinco horas da manhã pelas próximas horas.
"Só mais um pouquinho."
É necessidade.
Eu não quero perder um segundo sequer ao lado dela.
Por que sentir algo por alguém nos torna automaticamente clichê?
Enquanto ela dorme um sono calmo, ronca bonitinho e entrelaça as pernas por entre as minhas, eu me deparo mais uma vez com olhares divididos entre ela e meu bloco de notas com algumas palavras escritas tentando exemplificar pra mim mesma o que eu não sei falar ou explicar direito. Nem eu mesma entendo.
Hoje foi dia de cão e noite de sorte. Nesse momento boa parte da minha confusão mental já se dissipou e a sobriedade já me é concedida aos poucos.
A adrenalina e a cocaína não vão me deixar dormir, eu sei, portanto eu pretendo fazer o café dela antes que ela acorde, já que eu não vou conseguir fazê-la ficar aqui, eu só quero que ela enrole mais meia hora acordada enquanto toma uma água quente preta com açúcar na minha cozinha antes que o Sol nasça e a claridade, sobriedade e seriedade de um novo dia a leve embora da minha cama e ela demore muito, muitíssimo pra voltar, eu aproveito e capturo memórias dela que são tão minhas. Várias imagens dela que só vão existir na minha cabeça.
Pura observação.
Pura apreciação.
Ela vai me achar louca se eu contar que assisti ela dormindo por uns minutos. Eu acharia.
Ela é linda. Linda em sua totalidade mesmo, em sua intimidade, essência.
Linda para um caralho.
Linda até enquanto dorme.
Gostaria que ela conseguisse enxergar só 10% da mulher que eu vejo nela. Tenho olhos fantasiosos... Mas ela... Ela é incrível na mais pura, insana e careta das realidades. Ela é incrível 24/48. Com falhas e erros. E o lado escroto que todo mundo tem. Foda-se, eu vou sempre olhar pra ela e pensar que ela é mesmo demais e muito mais maravilhosa do que eu posso mensurar.
E eu sei que nunca vou poder mensurar.
Mas quem liga?
Eu não quero pensar agora no que ela sente e se, ao menos, ela sente algo além do que ela sente quando meus dedos entram nela. Ela também não sabe como eu me sinto e essa, talvez, seja minha maior verdade escondida, a grande ficha que acabou de cair: meus óculos tortos não adiantam mais... eu estou cega de amor.
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