Não... É exatamente como ela afirmou esta noite pra mim, eu realmente não consigo me lembrar da primeira vez que eu a vi.
E eu, sei lá, deveria? - Ela riu - Foi especial pra você? Teve algum alinhamento cósmico? - Ela me olha, balança a cabeça e ri mais ainda. Me chama de otária.
Mas sempre que eu resolvia aparecer no bailão o fato dela ser amiga dos meus crias fazia ela sempre estar ali. Sempre por perto, bala certa, ela é do tipo que mira, acerta e nunca erra. Então se é algum consolo eu sempre notei a presença dela. Próxima demais, acho que até demais. Eu só gostava quando a encontrava porque ela jogava o rabo demais pro meu lado. E a única certeza que eu tenho nessa vida, nesses meus trinta e um anos é que eu gosto demais de mulher, de whisky, de maconha e de baile funk.
Achava graça do padrão que ela ostentava, "hetero demais", impossível pra mim. Mas adorei ouvir ela assumir que ela queria mesmo que eu a quisesse. Por isso ela insistia na proximidade, no jogar a bunda pra mim sempre com vontade. Provocação, me quer e eu sei que é ego. Me tocava muito pra falar. Mas do primeiro dia até o dia de hoje eu não queria.
Ela é só mais uma hetero que quer brincar com a sapatão.
Repito: só mais uma.
Hoje ela conseguiu. Não vai passar ilesa, mas falando a verdade em todo bailão que rasga a madrugada da quebrada dela, se eu andar dez passos em linha reta eu acho um bonde de mina iguais a ela, iguaizinhas. Mentir pra que? Parece padrão, nenhuma se destaca. Quantas iguais a ela eu já não dei tapa na bunda, beijo na boca, bala na boca e quantas delas eu já não acabei amanhecendo com a buceta na boca, com elas assistindo eu entrando e saindo pelo espelho do teto, teve uma delas que foi tão ousada que até nos gravou. Parecia filme. E quantas iguais a ela eu já não beijei nessas últimas quatro horas? Mas sabe o que é foda? Foda que eu sei que ela sentou pro bonde todo porque ela gosta, porque ela quis, porque ela é livre. Tanto quanto eu, essa joga no meu time. Time de quem é casado com a liberdade.
Às vezes parece que ela tem um álbum com um espaço para colar a figurinha com a cara bonitinha de cada um de nós, com espaço pra observações e estrelinhas, e eu tô ligada que não faltam muitas para ela conseguir completar a página "viela da dias". Mas quem liga? E também, por outro lado, tá escrito na cara dela quando ela me olha que o defeito que ela tem é só gostar mais do que deveria de quem não presta. Bala certa. Me olhou, brincou falando que dava pra mim. Se falar mais sério, ganha o que quiser de mim. Pede no meu ouvido. Eu até queria prestar mas quando eu encontro alguém igual a ela eu desando. Saio um pouquinho da linha. Zero potencial pra dominar minha cabeça e minha vida, mas é no mínimo curioso que ela é mais calculista que eu.
Decidiu, me escolheu e fez acontecer.
Como será que ela quer ser chamada? Filha da puta, filha da putinha? Porque ela é, e até mais do que eu. Muito mais. E gosta. Eu gosto em dobro, em triplo, sou péssima em multiplicar então só pra deixar claro: o que ela quiser, eu quero também.
E só lembrando, achei a risada dela um tanto quanto provocativa, parecia me chamar, me convidar. Eu notei diversas vezes, só hoje, ela me buscando com o olhar. Na primeira vez passou, na segunda eu achei estranha... Na terceira minha mente foi invadida pela súbita vontade, coragem, a mão na cintura dela e eu imaginando as possibilidades que me fazem ter certeza que eu a levaria pra casa, mas não a quero embaixo das minhas luzes. Eu a quero clara, bem iluminada, num lugar onde eu não pretenda voltar. Pode escolher. Famoso "Tem local?". Destino é Ellos Motel, dei a ela o poder de escolha e ela ainda escolheu muito mal. "Posso ao menos escolher o quarto?". Minha mente adentrou o espaço fabricando o mal. Eu vou fazer ela gozar de novo dentro dessa hidro, só porque ela fica tão linda de cabelo molhado, diz que gosta de fuder aqui dentro por causa dos vidros embaçados, do ar quente. Eu não tô nem aí. Tenho fôlego pra mais uma hora. "Tá gostoso?" Eu nem ouvi muito bem o que ela falou. Gosto de olhar pra cara dela, expressão maluca, pedindo dedada, mais forte, gemendo pedindo pr'eu botar mais um, é excitante sentir enquanto ela goza muito forte, logo em seguida ao se recompor, me chamar de figurinha brilhante.
Eu não tenho dó, eu fodo sem dó. 2h falando, 4h fodendo. Não era isso que ela queria? Continua ligeira. Nem me emociono. Zero espaço pra ter emoção.
Amanhã se eu lembrar eu vou ligar pra perguntar como ela está, convidar pr'um chá. Mas ela... Ela é só mais uma hetero que inventou de brincar com a sapatão.
Repetindo pela quarta vez: só mais uma figurinha, mas a brilhante.
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