sexta-feira, 26 de maio de 2017

vomi.

Foi o pensamento mais rápido que eu consegui ter na vida, sabe aquela coisa de todas suas memórias passarem na sua frente? Em poucos segundos me lembrei de tudo. Ou quase tudo. A primeira vez que a vi, com aquele vestido florido, o cabelo caramelo e me olhando como se fosse capaz de entender minhas intenções. E talvez até fosse mesmo. Me lembrei também do primeiro beijo, naquele mesmo dia em um curto espaço de tempo depois. Da nossa primeira transa, que demorou duas semanas pra acontecer, do meu pedido de namoro quando percebi que seria impossível não me apaixonar. Do pedido de casamento. De quando "minha" cama virou "nossa" cama. E de quando nós adotamos o cachorro.
E nesse momento um nó trava minha garganta, meu coração parece que vai sair pela boca, meio desesperado, nossa última memória feliz. Acho que talvez nossa última memória, olhando no geral.
Agora nós estamos aqui, sentadas uma de frente pra outra, na mesma sala de antes. Ela me odeia, pelo menos nesse milésimo de segundo eu sei que ela me odeia, eu posso sentir isso quando olho diretamente pros olhos dela. 
Trago o cigarro lentamente, enquanto assisto sentada àquela cena. Juro que era como se eu nem estivesse ali, ocupando a mesma sala que ela, ouvindo cada uma das acusações dela, os gritos. Foi como se eu fosse um espectador qualquer ouvindo tudo de um lugar distante. Ela se levanta e antes de bater a porta deseja que eu me arrependa. "Espero que você morra de arrependimento..." - foi exatamente o que ela disse, enquanto colocava a coleira no cachorro.
E bateu a porta.
Foram semanas até tudo acabar. Mas foi muito rápido quando acabou. Eu não sei dizer quando foi que aconteceu exatamente. Num dia os latidos assustados com seus gritos cheios de palavras de ódio e acusações tomavam a casa, no outro não se escuta nada.
Acho que todo mundo já sabe que você foi embora.



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