"Por que é que você não volta?" - Me perguntei, quando tudo aconteceu. Isso foi uma pergunta recorrente durante muito tempo.
Hoje eu sei que tudo foi exatamente como era pra ser. Destino cruelmente cumprido. Um check a mais na lista da crueldade divina.
Nunca odiei tanto um domingo e nem um "Tudo de bom", todos os dias daquele mês, e de muitos outros, o mundo me engoliu e me cuspiu e todo mundo me abraçava e me desejava "Tudo de bom" seguido de um "Vai passar." Enquanto os olhares me culpavam. Culpas nunca trouxeram ninguém de volta.
Eu juro e você sabe que é verdade, se eu soubesse que era a última vez eu teria te beijado com mais intensidade, me desculpado por ter sido tão idiota, nós teríamos dançado aquela milonga tangueada, eu teria aberto o vinho pra comemorar seu novo emprego, nós teríamos transado na escada de incêndio e eu teria dito que te amava com mais frequência.
Hoje me lembrei de ti, guria. Me deu saudade. Uma vontade estranha de sentir de novo o cheiro doce que só teu abraço guardava, saudade do seu bom dia engraçado, do teu sotaque cantado, do teu olhar infantil e pidão. De você sendo você. Saudade, só. Nunca foi fácil acordar e não te encontrar quieta em algum canto da casa. Ou lendo. Ou fumando meu mato. Ou respirando, sei lá. Ainda hoje sinto como se nada disso fosse real, é tipo um desses sonhos ruins que eu tenho de vez em quando. Às vezes, quando o telefone toca, eu acho que é você, ainda sou capaz de ouvir sua voz.
E hoje te escrevo pra contar que eu me mudei do apartamento branco porque se tornou insuportável conviver com qualquer coisa que me lembrasse de você e portanto ficou difícil conviver com tudo que aquele espaço guardava. Eu me sentia sozinha, guardada numa caixa de lembranças e presa no tempo, presa naquele Dezembro estranhamente gelado. Sua irmã ficou com seu gato, suas roupas, seu sapato de cor estranha e seu casaco, que de tão empoeirado já não mais carregava seu cheiro, lavei com um choro desesperado por noites e noites. Acho que me desfiz da parte mais presente e viva de ti, decidi te manter guardada apenas aqui dentro, eu sei que era isso que você queria. Te orgulha de mim! Eu sei que você está em algum lugar sorrindo pra mim, feliz. Me despeço da nossa história com uma lembrança bonita e te guardo como quem guarda um tesouro.
Maktub.
Obrigada pelos dias de Sol, meu Sol.
1 comentários:
Não parece real ler isso... Dói muito!
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