domingo, 29 de junho de 2014

Moleton.

Hoje fez frio. Tirei do guarda roupa aquele meu moletom em listras tons de cinza que tu tanto gostavas de me ver usando, por um momento pensei não existir mais nenhuma memória sua dentro deste apartamento. Ledo engano, minha cara. Nada mudou e por mais que eu tenha mudado absolutamente tudo que me lembrava de você, eu ainda te encontro aqui dentro de mim. Suas memórias são como aquela visita indesejada e inesperada que chega sem avisar, às vezes eu até gosto, convido teu sorriso para um chá e coloco uma música que agrade tal visita, às vezes isso acaba com meu dia, minha noite, minha semana, minha vida. Percebi que ainda me sinto como se eu pertencesse a ti. Talvez eu pertença. Ainda tenho uma foto sua colada na porta do meu guarda roupa, que até hoje não sei por que ainda não tirei. Faz-me sentir bem te olhar e saber que as raízes de quem em outra primavera foste minha flor crescem agora no jardim de outro alguém. Na verdade, flor, foi lá que tu sempre estiveste plantada, não é mesmo? Nunca foste de fato minha. Nunca fizeste parte do que eu sou, do que eu fui. É uma sensação violenta pensar assim, maldito choque de realidade, maldito seja o teu sorriso que é o maior causador de tudo isso, malditos sejam os domingos de saudade. Na verdade, malditos sejam todos os dias de saudade.
É. Vesti o moletom e até que me senti bem usando depois de tanto tempo. Acredita que ainda consigo sentir nele o cheiro do seu perfume misturado com o cheiro do seu cigarro? Claro que eu continuo odiando o cheiro do seu cigarro, mas deixa... Só hoje, só agora eu gostaria que tu estivesses presente aqui, fumando sentada nesta sala, soprando a fumaça na janela. É, flor... Bateu saudade. Será que se eu colocar uma placa de "Não alimente a saudade" na minha cara você para de me deixar assim, mesmo que tu não faças a menor ideia de que, mesmo depois de todo esse tempo, a saudade de você ainda me visita?
Passei o dia todo pensando em como seria se tu ainda estivesses aqui, isso até me surpreendeu, você sabe, eu tenho aquela velha mania de “não lamentar o leite derramado, não discutir com o destino”. Maktub. Maldito maktub que não se aplica a nada no momento além da tatuagem e filosofia não correspondente com a minha realidade. Nada disso estava escrito, flor, nós sabemos. E se eu tivesse te escrito mais canções de amor pra te fazer rir e sorrir? Mais poemas só pra te dizer que eu te amava pra caralho? E se eu tivesse te dado melhores (bons) dias antes de levantar da cama? Se eu tivesse reclamado menos do cheiro do seu cigarro e fumado mais baseados contigo? E se eu tivesse te enchido de elogios banais só pra dizer que eu amo a cor dos seus olhos, o tom da sua pele, o jeito tão apaixonante como você sorri? Você ao menos sabia que quando você não estava por perto eu sentia uma vontade imensa de te abraçar forte como da primeira vez que te vi? Não sei e desisto de tentar saber.
Você costumava dizer que nós éramos iguais a um conto de fadas, e eu já nem sei quantas coisas eu fiz pra te esquecer, pra te tirar daqui de dentro, te desalojar do meu coração, não sei quantas outras princesas eu conheci, e você não tem ideia de quantos novos contos de fada eu já tentei escrever, em vão. Você sabe que foi em vão. Você foi perfeita e insuperável, talvez essa seja minha maldição: conviver com a sua saudade, flor. Tu foste realmente perfeita, só esqueceu-se de me avisar que nem todo conto de fada termina em sorrisos e finais felizes. 


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4 comentários:

Anônimo disse...

Nao desisti sozinha. Vida longa mundo pequeno.


"Você foi perfeita e insuperável, talvez essa seja minha maldição: conviver com a sua saudade, flor. "

Jéssica T. disse...

"Ano que vem eu vou ser na avenida o palhaço que eu fui na sua vida." :D

Anônimo disse...

Prepare-se para os proximos carnavais entao, pois sabemos que nao foste palhaça na avenida de uma unica pessoa. Trate de dar o troco as pessoas a altura, o que por hora, sera dificil em algumas situaçoes. ;)

Jéssica T. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.