não me olhe assim
você sabe
eu não vou te dar esse gostinho
de transformar teus olhos afogados em poema,
Julia.
não dá.
o jeito que você olha… não cabe em verso nenhum,
nem se eu quisesse muito.
você me escorre, transborda, me arrasta
e eu não vou ficar em teus braços até o amanhecer, saca?
aliás, que horas são?
Eu vou
e veja bem Julia, eu nunca escrevi pra ser boa nisso.
e eu não sou.
essas palavras aqui são só restos de você em mim.
repetidas, gastas, bobas talvez —
mas quem é você pra desprezar meu clichê?
e agora, com licença,
vou ali mergulhar num copo de bebida barata,
num bar esquecido,
e deixar que a saudade me derrame em outros braços, me afogue em outras coxas
Enquanto você me rejeita
como se isso fosse castigo.
Vou te esquecer
e você sabe.
não porque você me feriu —
nem chegou perto disso, mas é que pra mim
só sentir por si só já é desesperador, Julia
e eu não sei lidar com o que me atravessa
sem me despir inteira.
E escuta, sério,
essa é a última vez que te digo:
Você me desmonta, Julia.
de um jeito tão ridículo
que eu quase agradeço
por me fazer sentir (algo).
quase.
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